segunda-feira, 7 de novembro de 2011

PRESENTE DE GREGO

 

                   A expressão acima, como já é do conhecimento popular, refere-se ao recebimento de algo indesejado, que normalmente proporciona mais tristeza do que alegria.  Remonta à época do Império Grego durante a guerra entre Atenas e Tróia pela hegemonia política onde, segundo consta, os troianos receberam um enorme cavalo de madeira de presente dos gregos, na crença de que estes já haviam assimilado sua derrota.  Ao colocarem o enorme eqüídeo para dentro das suas muralhas, mal sabiam eles que no seu interior estavam os melhores guerreiros gregos, aguardando apenas o final da pândega para conquistar a cidade-fortaleza, derrotando seus inimigos.

                   Histórias à parte, a Grécia tem sido, nos últimos dias, a principal causa dos sobressaltos e palpitações das bolsas pelo mundo afora.  Arrastando-se numa situação pré-falimentar, resultado de uma dívida estratosférica de 355 bilhões de euros, o país ameaça com um calote generalizado, o que poderá levar outras economias européias também em situação de desconforto econômico a agirem da mesma forma.  Entre elas Irlanda e Portugal, num primeiro momento e, logo a seguir, talvez Espanha e Itália.

                   A realidade grega é cruel e dramática, principalmente pelos altíssimos níveis de desemprego que foram atingidos.  Na faixa etária de jovens entre 15 e 24 anos, ou seja, uma fase extremamente produtiva, os índices de desemprego rondam os 30%.  Diagnóstico da OMS (Organização Mundial da Saúde) também mostra o maior nível de desemprego de profissionais da medicina, o que tornou caótica a saúde daquele país..  Em alguns casos, as pessoas que necessitam de atendimento com urgência, precisam “pagar por fora” para obterem assistência médica.

                   Em outras áreas, a situação também se apresenta deteriorada.  Engenheiros com três anos de experiência recebem uma média salarial de 700€, o que significa pouco mais de R$ 1.500,00/mês, reflexo do empobrecimento generalizado da população.

                   Segundo o Tratado de Maastricht,  ocorrido em 1992 na cidade holandesa do mesmo nome, onde foram determinadas as bases para a criação da União Européia, o déficit fiscal dos países membros deveria ficar em torno de 3% do PIB.  No caso grego, este já superou os 14%.   No ano de 2004, por ocasião dos jogos olímpicos de Atenas, um déficit de seis milhões de euros também foi “pendurado” numa conta que já se mostrava preocupante àquela época.   Medidas impopulares como cortes de gastos e aumento de receitas se tornavam necessárias e foram postergadas de maneira irresponsável, até que a situação se tornou inadministrável.

                   O acordo feito na quinta-feira (dia 27) dá conta de que 100 bilhões de euros serão “perdoados“ pelos bancos credores, na sua bondade interplanetária. Quanto os mesmos auferiram nos últimos anos emprestando a juros cada vez maiores, pelo aumento da taxa de risco?  Ninguém sabe.  Ninguém divulgará.

                   Junto com o perdão bilionário, também foi anunciada a criação do EFSF ou Fundo Europeu de Estabilidade Financeira com recursos turbinados de 400 bi para um trilhão de euros.   Para tal façanha, segundo consta, novos investidores serão atraídos, principalmente os emergentes China e Brasil.

Na verdade ao “ganhar” o status de sede das Olimpíadas de 2016 e da Copa do Mundo de 2014 submetendo-se às exigências do COI (Comitê Olímpico Internacional) e da FIFA o Brasil colocou-se como um emergente poderoso e perdulário, não necessariamente nesta ordem.  Onde será pendurada a fatura dos R$ 26 bilhões a serem gastos nas Olimpíadas e dos R$ 65 bilhões da Copa do Mundo, ainda ninguém sabe ao certo.  O BNDES, que gosta de negócios vultosos, já se dispôs a injetar uns R$ 15 bilhões, prá início de conversa.

                   Pensando bem, quem sabe o Brasil pode mesmo ajudar a “carregar o piano grego”, neste momento de euforia em que se está vivendo por aqui.   Até porque, logo mais, após a gastança esportiva das Olimpíadas e da Copa do Mundo, quem certamente estará com o pires na mão será outra nação  perdulária e irresponsável.

Rogério Arioli Silva - Engº Agrº e Produtor Rural

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