Margens
das grandes tradings sob pressão
Os resultados mais
recentes divulgados pelas maiores tradings globais do agronegócio mostram que
os custos mais altos, a extrema volatilidade nos preços das commodities e o
recuo da demanda em alguns países, sobretudo na Europa, continuaram a
prejudicar seus lucros.
Apesar de Archer
Daniel Midland (ADM), Bunge e Cargill terem anunciado aumentos em suas receitas
líquidas - de 4,9%, 10% e 4,9%, respectivamente -, o aperto nas margens afetou
de forma generalizada os últimos balanços trimestrais divulgados pelo trio. A
Cargill foi a única entre as três a praticamente manter no período o lucro de
um ano atrás. Mas, no acumulado do ano fiscal, amarga uma forte retração nos
resultados.
A operação de
etanol ajudou a puxar para baixo o desempenho da ADM e da Bunge no trimestre
encerrado em 31 de março - o último trimestre anunciado da Cargill foi
encerrado em 29 de fevereiro. Maior produtora do biocombustível nos Estados
Unidos, a ADM anunciou na terça-feira que o lucro operacional de seu negócio de
"bioprodutos", no qual o etanol é o principal item, caiu para US$ 37
milhões no trimestre, US$ 121 milhões a menos que de janeiro e março de 2011.
A mesma má notícia
foi anunciada pela Bunge, que é uma das principais empresas de etanol de cana
no Brasil, com sete usinas. No trimestre, o prejuízo operacional em
"açúcar e bioenergia" foi de US$ 33 milhões, ante lucro de US$ 2
milhões registrado há um ano. "As menores margens com etanol no Brasil
impactaram negativamente esse negócio", afirmou o CEO da Bunge, Alberto
Weisser.
O retorno obtido
com a operação de processamento de oleaginosas também foi prejudicado pela
combinação de aumento dos custos dos grãos e dificuldade de repasse dessa alta
na cadeia. Na ADM, o lucro operacional desse segmento, que é um dos mais
importantes da companhia, caiu US$ 117 milhões para US$ 395 milhões. Nos nove
meses encerrados em 31 de março, o saldo também é de queda para US$ 869
milhões, ante os US$ 1,145 bilhão do mesmo intervalo do ano anterior.
O desafio do
processamento de oleaginosas, sobretudo na Europa, foi mencionado pela CEO da
ADM, Patricia Woertz, em nota divulgada na última semana. "Devolvemos bons
resultados, apesar da dificuldade com margens em etanol e em óleos vegetais na
Europa".
No trimestre, a
Cargill, a maior companhia de agronegócio do mundo, conseguiu manter os mesmos
níveis de lucro de igual período do ano-fiscal passado. O resultado líquido foi
positivo de US$ 766 milhões, US$ 3 milhões maior.
A repetição do
resultado trimestral foi uma excelente notícia para a múlti americana, que no
primeiro e no segundo trimestres do ano fiscal corrente (iniciado em junho de
2011) registrou, respectivamente, queda de 66% e 88% em seus lucros. Naquele
momento, a empresa reconheceu que foi desafiador lidar com as instabilidades da
economia e do mercado financeiro global, sobretudo no negócio de trade de
commodities.
Na divulgação dos
resultados do trimestre, o CEO da Cargill, Greg Page, avaliou que a empresa
conseguiu gerenciar melhor seus riscos macroeconômicos, em um ambiente marcado
por elevada volatilidade de commodities.
Também pesou
positivamente no desempenho da empresa o bom resultado do segmento de
ingredientes alimentícios. "Foram os maiores ganhos para este negócio em
um terceiro trimestre na história da companhia", afirmou Page.
No trimestre, o
lucro operacional de adoçantes e amidos (ingredientes) da ADM subiu de US$ 46
milhões para US$ 93 milhões, mas, nos nove meses encerrados em 31 de março,
recuou de US$ 311 milhões para US$ 194 milhões.
Apesar
dos últimos meses de lucros menores, que culminaram na demissão de funcionários
por ADM e Cargill, o mercado espera para os próximos trimestres uma menor
pressão sobre os custos dessa empresas. Os estoques globais apertados e os
preços altos dos grãos devem encorajar os produtores a semear áreas maiores no
Hemisfério Norte em 2012/13, na avaliação do CEO do Bunge, Alberto Weisser. Com
mais oferta, as cotações das oleaginosas podem cair e pressionar menos os
custos. Para Patricia Woertz, da ADM, a chegada da safra sul americana ao
mercado, os níveis de processamento de oleaginosas e de exportação de farelo devem
retornar aos patamares sazonais.