quinta-feira, 1 de abril de 2010

CHINA AMEAÇA REDUZIR IMPORTAÇÃO DE ÓLEO DE SOJA

O governo chinês decidiu retaliar as restrições impostas pela Argentina às importações de produtos asiáticos. Funcionários públicos deram expressas orientações aos importadores para não comprar óleo de soja argentino. A medida oficial foi informada durante reunião da Câmara de Comércio para Importação e Exportação de Produtos Alimentícios, do Ministério de Comércio da China, segundo revelou um operador de uma companhia internacional que opera com os dois países. "Aconselharam-nos a não comprar óleo de soja da Argentina. É parte das medidas de represália", disse o operador à imprensa local, após o encontro realizado na tarde de ontem. O boicote pode beneficiar as exportações do Brasil e dos EUA para o mercado chinês. Se a China deixar de comprar óleo de soja argentino, o país vizinho reduzirá o volume de divisas e o governo vai deixar de arrecadar US$ 623 milhões em retenções - os impostos às exportações. As projeções são da consultoria Abeceb. Em 2009, 45% das exportações de óleo de soja (1.904.047 toneladas com receita de US$ 1,442 bilhão) foram para a China. A perspectiva para 2010 são de vendas de 2.313.698 toneladas de óleo de soja ao mercado chinês, o que representaria US$ 1,947 bilhão em divisas. Desse valor, o fisco arrecadaria os mencionados US$ 623 milhões, uma cifra maior do que a arrecadada no ano passado, que foi de US$ 461 milhões. Além do óleo, 72% dos grãos de soja exportados pela Argentina são destinados aos chineses.
Em princípio, as advertências de retaliações do governo chinês pareciam estar relacionadas com o conflito portuário argentino, que paralisou as exportações agrícolas durante 11 dias. Contudo, após o fim do conflito anunciado ontem, as informações detalhadas das fontes revelaram que a medida faz parte de uma estratégia político-comercial maior. Desde o fim de 2008 que a Argentina aplica uma série de barreiras comerciais aos produtos chineses. Nos últimos meses, o governo de Cristina Kirchner redobrou a aplicação de direitos antidumping a vários segmentos chineses. Por isso, surgiram as retaliações.
Autossuficiência
Fonte de uma multinacional exportadora de grãos instalada na Argentina fez outra avaliação à Agência Estado. "A China tem uma dependência forte das importações de óleo de soja e o governo chinês busca a autossuficiência da produção local. Com as restrições à importação de soja, o governo pretende estimular a produção do grão e, a partir daí, incrementar a indústria de óleo", explicou a fonte. O óleo de soja argentino representa 77% das importações chineses desse produto. O restante, segundo a Abeceb, foi importado especialmente do Brasil e uma pequena porção dos EUA.
O analista argentino Gustavo Lopéz, da consultoria Agritrend, estima que o Brasil poderia aumentar sua participação no mercado chinês com a ausência da Argentina. No entanto, ele observa que o "Brasil tem atrasos no carregamento nos portos em Paranaguá". Os problemas estruturais brasileiros, continua ele, poderiam impedir o cumprimento dos prazos dos contratos. "Essa situação pode levar os chineses a comprar mais soja norte-americana do que brasileira", estimou. Outro motivo que pode pesar na avaliação dos chineses sobre a preferência pela soja americana em detrimento da brasileira é a decisão tomada pelos governos do Brasil e da Argentina de estudar medidas para conter o avanço dos produtos importados chineses. Durante reunião na semana passada, em Brasília, ambos os governos deixaram de lado suas divergências na área comercial, e resolveram se unir para impedir uma invasão ainda maior dos chineses em seus mercados e promover seus produtos na China. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria (MDIC), o Brasil diminuiu participação nos segmentos de papel e tecidos e malhas no mercado do sócio no Mercosul, enquanto que a China aumentou sua fatia. No caso do papel, a presença dos produtos brasileiros na Argentina caiu de 34% para 30%, enquanto que a dos chineses passou de 4% para 10%.
No caso dos tecidos e malhas, a participação brasileira despencou de 29% para 9%. E os chineses abocanharam uma parte do mercado, que saltou de 56% para 78%. Os argentinos reclamam do mesmo problema no Brasil. A presença deles no mercado brasileiro de móveis, por exemplo, caiu de 7% para 1%, enquanto os chineses passaram de 25% para 40%.

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