segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

PERSPECTIVAS 2010: INQUIETAÇÕES COM CÂMBIO DEVEM DIMINUIR.

O câmbio para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, é um problema permanente para o País, mas o atual patamar não o preocupa. No mercado, a expectativa é de que a taxa de câmbio não deve causar em 2010 as mesmas inquietações que despertou nos últimos tempos. Os especialistas descartam uma crise cambial, porque o ritmo de apreciação do real durante 2009 não vai se repetir no ano vindouro. Avaliam que a forte queda do dólar desde janeiro último refletiu, principalmente, a devolução dos ganhos que a moeda norte-americana teve durante o pior momento da crise econômica internacional, no último quadrimestre de 2008. E mesmo que o período eleitoral futuro venha a somar volatilidade aos ativos financeiros, eles não esperam movimentos abruptos do dólar. Ainda assim, há uma larga distância entre as projeções para a divisa dos EUA para o final de 2010: as estimativas variam de R$ 1,55 a R$ 1,95.
O ano de 2009 consolidou o Brasil como país emergente de destaque e, no rastro desse novo status, desembarcou por aqui uma enxurrada de recursos direcionados para os investimentos diretos - saldo líquido de US$ 19,245 bilhões até o final de outubro - e aplicações financeiras - US$ 31,716 bilhões para ações e US$ 8,097 para renda fixa. O real valorizou-se 33,383% ante o dólar no ano até o dia 11 de dezembro, de acordo com a Economática. Assim, a questão cambial ficou no centro das discussões e preocupações do governo, a ponto de medidas de controle de capitais serem adotadas: em outubro, foi aplicado IOF na entrada de recursos de estrangeiros destinados a aplicações em bolsa e renda fixa e, em novembro, as emissões de Depositary Receipts (DRs) também passaram a ser taxadas. Desde então, a taxa de câmbio sustentou-se acima de R$ 1,70 e o ministro Mantega ficou mais tranquilo. Nos últimos dias, ele disse que é natural uma valorização cambial "quando a economia está forte e vai bem, mas o nível de preço atual está mais controlado e se valorizando menos desde que foi tomada a medida do IOF". "A volatilidade do câmbio diminuiu e ele se mantém em um determinado patamar, o que ajuda mais a economia." O ministro disse ainda que eventuais novas medidas serão de responsabilidade do BC, com vistas à flexibilização do mercado e devem demorar. A percepção no mercado é de que, se o objetivo de novas medidas for só corrigir assimetrias de regras, elas não terão impacto relevante na formação de preços. Considerando que o mercado de derivativos de câmbio no Brasil é o segundo maior do mundo e que direciona a composição do preço do dólar à vista, o economista Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora de Câmbio, sugere ações de combate a focos especulativos. Defende, por exemplo, a fixação de novos limites e margens de garantia mais altas para operações de hedge cambial consideradas "suspeitas" pelo Banco Central. Ele achou positiva a Circular 3.474, que começa a vigorar no fim deste mês e exige o registro de todos os contratos de empréstimo feitos no exterior, que tenham cláusulas associadas a derivativos financeiros. Mas a exigência, afirma, apenas cria constrangimento pelo fato de que expõe o titular da posição, porém não eleva custos.
De acordo com a consultora Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria Integrada, a apreciação do real está em linha com a registrada por outras moedas de países exportadores de commodities e que têm política de câmbio flutuante. Como exemplo, cita o dólar australiano e o rand da África do Sul, que, no ano, até o início de dezembro acumulavam altas de, respectivamente, 39% e 33%.
Projeções -

Ao longo de 2010, Alessandra espera uma interrupção pontual na apreciação da moeda nacional. Em suas estimativas, o dólar seguirá recuando até chegar a R$ 1,65, mas a partir de maio subirá, atingindo R$ 1,90 na máxima, entre os meses de setembro e outubro. O processo eleitoral vai gerar volatilidade, prevê. "Teremos menos pressão e volatilidade do que em 2002, mas o mercado ficará mais sensível às vésperas da eleição. Passado o pleito, o dólar voltará a ceder", avalia. Na média do ano, ela estima que o câmbio seguirá se apreciando e o dólar passará de uma taxa média de R$ 1,99 em 2009 para R$ 1,75 em 2010.
O economista Miguel Daoud, diretor da Global Financial Advisor, concorda que as eleições devem provocar certa volatilidade no mercado cambial, mas conta com um impacto limitado sobre o câmbio. "As oscilações decorrerão da percepção de um aumento de gastos públicos e comprometimento do superávit primário. Contudo, um ponto positivo é que a questão política doméstica já não tem mais tanta influência na formação de preço do dólar, porque os fundamentos econômicos do País são sólidos", avalia. Daoud trabalha com um dólar mais forte no fim de 2010, ao redor de R$ 1,95. "O ajuste de alta da moeda norte-americana deve começar já em fevereiro ou março e será amparado pela perspectiva de um eventual início do aperto monetário nos EUA a partir do segundo semestre de 2010." Essa expectativa, explica, deverá sustentar um movimento de desmontagem de operações de carry trade com o real já a partir do fim do primeiro trimestre, o que deve amparar saídas de recursos de investidores estrangeiros do País e uma correção do dólar ao longo do próximo ano.
Sidnei Nehme também aposta que o dólar estará ao redor de R$ 1,90/R$ 1,95 no encerramento de 2010, como consequência do enxugamento da liquidez internacional pela retirada dos estímulos econômicos dados por vários países durante a crise. Neste fim de ano e início do próximo, ele enxerga a moeda na faixa de R$ 1,80 a R$ 1,85. "Antes do início do aperto dos juros, vários países vão retirar os incentivos dados no auge da crise e sobrará menos dinheiro disponível no mercado. Com isso, recursos estrangeiros sairão daqui rumo às matrizes para aplicação nas economias locais. Esse movimento dará sustentação ao dólar e a intensidade da valorização da moeda estará diretamente relacionada ao grau do ajuste monetário, principalmente nos EUA e países da zona do euro", afirma.
O economista-chefe no Brasil do banco alemão WestLB, Roberto Padovani, também não vê pressão forte no câmbio em decorrência da eleição presidencial, mas projeta uma taxa de dólar bem mais baixa no final de 2010, em R$ 1,55, ante R$ 1,65 no próximo 31 de dezembro. "Haverá volatilidade, mas os candidatos devem dar sinais de continuidade na política econômica e isso manterá os mercados calmos." Nehme ressalta que "o perfil dos principais candidatos não causa temor". Padovani atribui sua previsão à expectativa de que a economia dos EUA ainda deve patinar por um bom tempo. "A retomada norte-americana não será forte, as economias emergentes irão bem e as commodities devem seguir em alta. Isso é sinônimo de enfraquecimento do dólar", defende.

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