quinta-feira, 19 de novembro de 2009

ARGENTINA: PRODUTORES CONTABILIZAM PERDAS COM ESTIAGEM

Os efeitos da prolongada estiagem em áreas produtoras da Argentina desanimam os produtores rurais. "Estamos rumo a perder um terço dos 30 milhões de hectares cultivados que temos no País", afirmou o presidente da Federação Agrária da Argentina, Eduardo Buzzi, que representa os pequenos produtores. A seca tem sido uma constante no pais desde a última safra de 2008/09,
considerada a pior desde 1960. Em algumas zonas produtoras, como em Patagones, no sudoeste da Província de Buenos Aires, a situação é de calamidade."Dos 2.500 hectares que eu tinha plantado com trigo, aveia e cevada, agora só tenho uma miséria de pasto pra alimentar as 10 vacas que me restaram das 600 que cheguei a ter", lamentou o produtor Albino Blázquez, 67 anos. Ele diz que, por causa da seca, já não há trabalho nem produção nessa zona, que envolve pelo menos quatro municípios. "A gente pensava que a seca ia durar um ano e começamos a vender uma parte do gado para alimentar a outra e continuamos a plantar, mas a estiagem foi se repetindo e perdemos tudo", relatou referindo-se à tendência de estiagem iniciada há cinco anos em seu município. Patagones costuma registrar um volume menor de chuvas que outras áreas da Província de Buenos Aires, como Pergamino, onde o solo é mais fértil e mais úmido. A desertificação da região foi objeto de conversa entre o governador da Província, Daniel Scioli, e o presidente de Israel, Shimon Perez, em sua visita ao País na última segunda-feira (16). A experiência israelita com a recuperação de terras no deserto poderia ajudar a Argentina a reverter a "pronunciada e devastadora seca", como definiu Scioli. De fato, uma empresa israelita realiza trabalhos na região, mas os produtores já não acreditam em um futuro no campo "porque o governo não tem uma política para resolver o problema", como disse Guillermo Belloso, presidente da Federação Agrária de General Villegas, outro município afetado pela estiagem. "Um produtor destas terras não pode pagar o mesmo de retenções (impostos de exportações) que um agricultor de Pergamino", queixa-se Belloso. Queda dos investimentos - "Com o sistema de retenções e a falta de políticas agropecuárias de médio e longo prazos, o produtor foi afetado nas suas decisões de investimentos", explicou Belloso. Somando as incertezas com a política oficial, os pagamentos de retenções e a seca, o cenário é de dificuldades para o setor. A Associação Argentina de Meteorologia afirma que a região sudoeste de Buenos Aires não é uma exceção e que a estiagem é uma tendência. "O que começou como um problema climático se tornou uma crise social e todos precisam de ajuda do governo para comer", afirmou o presidente da Associação de Produtores de Villarino Norte, Fernando Carrizo Fierro. Segundo ele, a região se tornou marginal. Em Córdoba, outra província produtora de grãos e de gado, a água está faltando até mesmo para o consumo humano. Segundo o governo, os reservatórios guardados para os cidadãos só são suficientes para mais 10 dias se não chover fortemente. A província perdeu praticamente tudo o que plantou até o momento. O governo já reconheceu que a colheita será de apenas 250 mil toneladas, o que representa 91,5% menos que a safra de 2008. Perdas - As projeções são de que Córdoba vai ter que importar alimentos para a população, especialmente o trigo, segundo confirmou o produtor Juan Carlos Martínez, da Associação de Cooperativas Argentinas. As perdas estão avaliadas em US$ 160 milhões.O pior golpe é contra a soja, que até o momento só foi semeada em 15% da superfície de 15 milhões de hectares destinados a esse cultivo. No caso do trigo, somente 2,8 milhões de hectares estão plantados, ante os 5,5 milhões da safra anterior. Nas contas da corretora Artegran, os argentinos não sofrerão com a falta de pão, mas na hora de olhar toda a cadeia de alimentos que depende do trigo não há tanta segurança assim. "Hoje a Argentina tem um consumo de 6,5 milhões de toneladas de trigo, e essa safra vai levantar uns 7,5 milhões de toneladas, o que nos mostra que não teremos problema nesse ano, mas se a tendência de estiagem continuar teremos complicações em 2010", afirmou César Gagliardo, presidente da Artegran. O problema afeta também o leite e a carne. A Associação Agrícola de Gado de La Pampa informou que a atual seca já matou um milhão de cabeças de bovinos, mas esse número deve subir para 1,5 milhão até o final do ano. A última projeção da Bolsa de Cereais de Rosário é de que a produção da Argentina 2009/10 será significativamente menor do que se esperava inicialmente. Em uma nota divulgada na segunda-feira (16), a Bolsa de Rosário avalia que a safra de soja será a mais prejudicada e somará 47 milhões de toneladas. "A seca está afetando algumas províncias, como Córdoba, Santiago del Estero, Oeste de Buenos Aires e partes do Norte do país, o que leva a crer que as estimativas deverão ser reduzidas, e não elevadas", comentou.Segundo as projeções da bolsa, a produção total de grãos ficará em 77 milhões de toneladas, ante as 63 milhões de toneladas da última safra, das quais 47 milhões de toneladas de soja, 13 milhões de toneladas de milho, 8 milhões de toneladas de trigo, 3 milhões de toneladas de semente de girassol, 2 milhões de toneladas de sorgo e 4 milhões de toneladas de outros grãos.

MÁRIO MARIANO

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivo do blog

Quem sou ?

Minha foto
SÃO PAULO, CAPITAL, Brazil
CORRETOR DE COMMODITIES.

whos.amung.us

contador de visitas