quinta-feira, 19 de novembro de 2009

SOJA BRASIL-COMERCIALIZAÇÃO MAIS LENTA.

Com mais de dois terços da nova safra de soja já plantada, os produtores brasileiros negociaram antecipadamente menos de 20% da produção esperada. Embora as estimativas variem, participantes do mercado são unânimes em afirmar que o ritmo é mais lento do que o observado nos anos anteriores, o que afeta o fluxo de caixa do agricultor e, principalmente, aumenta os riscos do negócio. O diretor da Tetras Corretora, Renato Sayeg, afirma que mais de 35% da safra 2008/09 havia sido comercializada em igual período do ano passado. O ritmo deste ano também é inferior à média dos últimos anos, próxima de 25%. Para o trader, a lentidão já era esperada devido à perspectiva de uma produção mundial recorde. "A oferta deve crescer 19% este ano e superar a demanda pela primeira vez depois de dois anos de déficit. Esse quadro por si só já é tranquilizador para quem compra soja", explica. Sayeg chama a atenção para o fato de que a China, maior importador mundial do grão, já reduziu suas importações depois de importar um volume recorde no primeiro semestre. Segundo dados da Administração Geral Alfandegária chinesa, o volume médio mensal importado caiu quase 31% nos três últimos meses, na comparação com a média do primeiro semestre, para menos de 2,6 milhões de toneladas. Trata-se do nível mais baixo desde o primeiro trimestre do ano passado. Se o cenário é mais confortável para o comprador, que não precisa correr para assegurar seu abastecimento, o produtor dá sinais de que está insatisfeito com as condições atuais. Embora os preços internacionais da soja estejam pelo menos 10% acima do que os registrados em novembro de 2008 e sejam 40% maiores do que a média histórica para esta época do ano, o câmbio valorizado compromete a renda do setor. Em dólar, um contrato de soja para entrega em maio era negociado a US$ 9,20 o bushel ou US$ 20,44 a saca na Bolsa de Chicago (CBOT) em novembro do ano passado. Com o dólar a R$ 2,30, o produtor recebia cerca de R$ 47 por saca. Hoje, o mesmo contrato vale US$ 10,35 o bushel ou US$ 23 a saca, mas, com o dólar a R$ 1,71, o produtor recebe apenas R$ 39,33 a saca. "A dinâmica do câmbio não está sendo boa para o produtor, já que o dólar na época do plantio estava mais alto do que na comercialização. Se esse dólar tivesse se mantido perto dos R$ 2, teríamos um maior volume comercializado", afirma Sayeg.
Segundo José Aroldo Gallassini, presidente da Coamo, maior cooperativa de grãos do País, os preços são remuneradores para o produtor se forem levados em conta apenas os custos operacionais de produção, que caíram este ano. "Para o produtor que está com as contas em dia, vender agora não é um mau negócio", afirma. Cálculos do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral) mostram que os produtores do Estado desembolsaram, em média, o equivalente a R$ 21,06 por saca de soja no plantio deste ano, o que significa uma economia de 12,1% em relação à safra passada. Já o custo total, que inclui o custo da terra, a depreciação das máquinas e outras despesas fixas, recuou 5,6%, para R$ 34,63 a saca. "O problema é que um grupo grande de agricultores está muito endividado. Para eles, a conta pode não fechar", afirma Gallassini.Para o diretor da consultoria mineira Céleres, Anderson Galvão, o pequeno volume de negócios também se deve à postura mais retraída por parte das tradings, que vêm reduzindo sua participação no financiamento da safra por meio de compras antecipadas. "Ou as tradings continuam a enfrentar dificuldade para levantar crédito lá fora ou decidiram, estrategicamente, livrar-se desse ônus", afirma o especialista. Galvão acredita que a queda dos juros no País e o aumento do crédito público fizeram com que o financiamento ao produtor se transformasse em um negócio menos atrativo para as multinacionais.
Fundamentos - Para os agricultores, o maior risco é que os preços em Chicago cedam dos níveis atuais nos próximos meses. Segundo Vinícius Ito, analista da corretora Newedge USA, em Nova York, os fundamentos não sustentam uma soja acima de US$ 10 o bushel: além dos Estados Unidos, Brasil e Argentina também devem colher uma produção recorde em 2009/10. "Os preços podem cair e, possivelmente, registrar novas mínimas para esta temporada", afirmou.
Ou seja, existe o risco de que a soja volte a ser negociada abaixo dos US$ 9 o bushel. Segundo a Agroconsult, isso faria com que a rentabilidade média do produtor caísse de R$ 415 para R$ 227 por hectare, no Mato Grosso, e de R$ 570 para R$ 375 por hectare, no Paraná, considerando a manutenção do câmbio no nível de R$ 1,70.Galassini, da Coamo, vê o cenário com preocupação. "O produtor tem sempre a expectativa de que o preço suba, mas parece mais provável que o preço caia um pouco mais no ano que vem", afirma. O presidente da Coamo pondera, contudo, que o mercado ainda pode reagir caso haja problemas com a safra sul-americana, que ainda está sendo plantada. "Além disso,os países estão saindo da crise, e isso pode fortalecer a demanda", acrescentou. Anderson Galvão, em contrapartida, tem uma perspectiva mais otimista em relação aos preços. "Acredito que já tenham atingido os níveis mínimos da safra 2009/10", afirma. Para ele, os preços agrícolas estão sofrendo um ajuste de alta diante da desvalorização do dólar. "A soja está atrasada nesse processo", avalia.

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