domingo, 6 de junho de 2010

ARGENTINA: PRODUTOR DE SOJA RETEM SAFRA.

A colheita recorde de soja na Argentina caminha para o fim, em torno de 54,7 milhões de toneladas. No entanto, ao contrário do que o governo de Cristina Kirchner esperava, a produção recorde não está provocando uma forte entrada de divisas no país. Isso porque os produtores e os exportadores não estão embarcando a soja. Os grãos estão indo diretamente da colheitadeira para os silos-bolsas.
As imagens das artérias agrícolas do país são de centenas de bolsas saindo dos campos cultivados para caminhões que as transportam a locais bem distintos do cais do porto, onde teriam de ser embarcadas. Segundo dados da Bolsa de Comércio de Rosário e da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, 49,6% das 54,7 milhões de toneladas de soja estão nas mãos dos exportadores ou produtores que as armazenam nos silos-bolsas ou silos tradicionais. Esse recurso dá aos exportadores poder de fogo para pressionar o governo a afrouxar a intervenção nos preços ou tentar reduzir as retenções, os impostos de exportações cobrados sobre os produtos.
Segundo analistas de mercado, 65% da colheita de soja ainda não tem preço fixo, além de outras 8,5 milhões de toneladas da safra anterior que ainda não foram negociadas. Os produtores têm expectativas de que armazenando os grãos, o preço do produto possa reagir. Os analistas, no entanto, acham que essa hipótese é difícil de se concretizar. Na Bolsa de Rosário, a soja fechou a 890 pesos (US$ 227,62) a tonelada . Esse valor está se sustentando pela retenção de grãos dos produtores argentinos. Os sojicultores brasileiros também contribuem para melhorar as cotações pois, de acordo com operadores do mercado, ainda têm 40% da soja a ser vendida.
As perspectivas para o preço da soja brasileira e argentina para o fim do ano são de retração, por causa da acentuada crise na Europa e da colheita norte-americana em novembro. O analista de mercado, Ricardo Baccarin, explicou que "é muito arriscado ter tanto estoque em um mercado no qual as posições mais longas valem menos do que as mais próximas". Segundo ele, a operação do mercado local de futuros nos primeiros cinco meses de 2010 aumentou mais de 15% em relação em igual período de 2009. Mas a posição do contrato de soja com melhor preço é julho, a mais próxima.
Apesar do risco, os produtores seguram a mercadoria na esperança de conseguir pelo menos 900 pesos (US$ 230,17) a tonelada. Mas o objetivo é chegar a 1.000 pesos (US$ 255,75), segundo informações do mercado. Contudo, Baccarin alerta que a situação pode ser uma bomba-relógio. "Se chegarmos ao fim do ano com um cenário financeiro complicado, preços baixos e produtores com a corda no pescoço, os resultados da estratégia atual seria típica de um tiro que saiu pela culatra", ilustrou.
A anterior safra de soja foi uma das menores dos últimos anos, por causa da forte estiagem que deixou um déficit de 32 milhões de toneladas de grãos. Por isso, na atual safra, os produtores querem recuperar os resultados do último ano. O analista Gustavo López, da consultoria Agritrend, explicou que o produtor está reticente em vender a produção porque precisa recuperar as perdas passadas e cobrir suas necessidades presentes e futuras. A análise é compartilhada pelo analista da Bolsa de Buenos Aires, Ramiro Costa. "Há incertezas nos mercados internacional e local. E, portanto, é natural a reticência do produtor", disse ele. O analista explicou que a resistência dos produtores brasileiros em vender a safra se deve à expectativa de uma desvalorização do real, o que garantiria maior competitividade no mercado externo.
Na Argentina, os produtores querem maiores preços para também aliviar a alta dos custos internos. Além disso, os argentinos, segundo os analistas, temem falta de liquidez em um cenário de elevada inflação, com expectativa de aceleração. Alguns analistas estimam que o país fechará 2010 com inflação da ordem de 30% ao ano.

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