segunda-feira, 5 de julho de 2010

LA NIñA DEVE MUDAR CLIMA JÁ NA PRÓXIMA PRIMAVERA.

Depois de um período de aproximadamente um ano com águas aquecidas (El Niño), desde o mês passado se observa um processo de resfriamento das águas do Oceano Pacífico equatorial, indicando o retorno do fenômeno La Niña. Alterações no clima já são previstas para a próxima primavera no Hemisfério Sul, segundo avaliação da Somar Meteorologia em boletim especial com projeções para a safra de grãos 2010/11.
Conforme a Somar, o resfriamento das águas do Oceano Pacífico equatorial deve aumentar gradualmente no decorrer deste inverno, com o La Niña totalmente configurado durante a primavera e permanecendo durante o verão 2011. "A previsão é de um episódio de intensidade moderada a forte e deve durar pelo menos até o outono de 2011", informa o sócio diretor da Somar, Paulo Etchichury.
O mais recente episódio de La Niña ocorreu no verão 2007/08. No entanto, dadas as características como intensidade, rapidez na formação e provavelmente duração, o episódio deste ano está muito semelhante com o observado no segundo semestre de 1998 e verão 1999.

Os principais impactos para o segundo semestre de 2010 e verão 2011 na agropecuária:
Soja
Para a lavoura de soja do Brasil, o fenômeno La Niña tem dois impactos bem caracterizados: primeiro atrasa o retorno das chuvas no Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil. Enquanto para as lavouras do Sul do Brasil e também de Mato Grosso do Sul reduz a incidência de chuva e aumenta o risco de estiagens regionalizadas no verão. Para a safra 2011, portanto, muda o cenário climático, principalmente quando comparado com o observado na safra passada.
O retorno das chuvas este ano deve ocorrer somente no fim de outubro e no decorrer de novembro, mesmo assim de forma muito irregular, o que deve implicar atraso do plantio para as lavouras de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Bahia, Piauí, Maranhão e Tocantins. Durante o verão as chuvas nesses Estados devem apresentar um comportamento médio, com o risco das chuvas se prolongarem até abril e meados de maio.
Já as lavouras do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e também de Mato Grosso do Sul não devem enfrentar grandes problemas na fase de plantio entre outubro e novembro. No entanto, deve-se considerar o risco de estiagem durante os meses de verão. A continuidade do La Niña remete para a possibilidade de um outono também com chuvas abaixo da média.
Milho verão
Conforme a Somar, o cenário climático para a lavoura de milho é muito semelhante às condições da lavoura de soja. O risco aumenta principalmente para as lavouras do Sul do Brasil em virtude das estiagens no verão. As lavouras do norte/noroeste do Rio Grande do Sul e do oeste de Santa Catarina, no entanto, que são plantadas mais cedo (em agosto), ainda podem se beneficiar das chuvas da primavera. Elas poderão escapar assim do risco de estiagem que aumenta a partir de dezembro e durante o verão.
Para as lavouras de milho do Nordeste do Brasil, incluindo o agreste e sertão nordestino, a presença do La Niña num primeiro momento indica um bom período de chuvas ("inverno nordestino") que vai de fevereiro a maio. No entanto, a qualidade do período de chuvas ainda vai depender das condições do Oceano Atlântico que, no momento, ainda não estão definidas. De qualquer forma, o cenário climático para 2011 é bem melhor que o observado na safra deste ano.
Arroz irrigado
O fenômeno La Niña está associado a chuvas abaixo da média e períodos de estiagens nas áreas produtoras de arroz do Sul do Brasil. Considerando, porém, que a região vem de um período chuvoso, com a maioria dos reservatórios/barragens cheios e ainda com as chuvas da primavera para completar nível, o indicativo do verão mais seco representa um cenário climático favorável para a próxima safra de arroz do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. A Somar observa que o principal problema da safra passada foi o excesso de chuva da primavera, por causa do El Niño.
Além disso, a previsão de redução das chuvas durante o inverno, com a incidência de períodos secos nas principais áreas produtoras de arroz irrigado do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, deve beneficiar o processo de drenagem e preparação do solo para o plantio, cujas atividades em grande parte se concentram nos meses de inverno, o que depois favorece o plantio que se inicia a partir de outubro.
Algodão
O atraso no retorno das chuvas na primavera não deve representar grande problema no plantio da lavoura de algodão de Mato Grosso e da Bahia. Durante o verão deve prevalecer o padrão médio de chuvas, o que não deve interferir no desenvolvimento das fases vegetativas. É importante considerar, porém, a possibilidade de o período de chuvas se prolongar até abril e meados de maio de 2011, o que em tese favorece a lavoura de algodão adensado/safrinha na fase vegetativa. Em compensação, pode representar risco nas fases finais (abertura da pluma) e colheita. Portanto, em 2011 não deve se repetir o problema observado na safra passada, quando a falta de chuva em abril e maio acabou reduzindo o potencial de produção de algumas lavouras.
Milho safrinha
O fenômeno La Niña aumenta o risco para as lavouras do Paraná, Mato Grosso do Sul e de São Paulo, que enfrentam período de escassez de chuva durante o outono, assim como não dá para eliminar o risco de frio (geada) a partir de maio. Já para as lavouras de milho safrinha de Mato Grosso e Goiás, o cenário climático é mais favorável, pois o período de chuvas deve se prolongar até abril e meados de maio de 2011. O cenário climático para a lavoura do milho safrinha 2011 muda, portanto, em relação ao observado em 2010. O cenário é mais favorável para as lavouras de Mato Grosso e Goiás, enquanto se pode esperar problemas e aumento de risco para as lavouras do Paraná e de Mato Grosso do Sul.
Cana-de-açúcar
O período seco mais definido e longo que vem sendo observado em 2010 tem favorecido o corte e o processo de moagem da cana-de-açúcar do Sudeste e do Centro-Oeste do Brasil. No entanto, como o período seco está bem mais crítico (severo) e considerando a possibilidade do atraso no retorno das chuvas da primavera, isso deve interferir no desenvolvimento das plantas novas e assim comprometer a produção da safra de 2011. A Somar ressalta, ainda, que em 2011, em virtude da presença do La Niña, o período de chuvas pode se prolongar até abril e meados de maio, retardando assim o início do corte/moagem.
Café/laranja
Este ano o outono e o inverno mais secos e com temperaturas mais amenas beneficiaram a finalização e a qualidade da safra, assim como tem favorecido o processo de colheita. No entanto, como o período seco será bem mais severo e considerando a possibilidade do atraso no retorno das chuvas, isso poderá prejudicar o desenvolvimento das plantas e as fases de floradas na primavera, comprometendo assim a produção da safra de 2011.
Leite/carne
A Somar alerta para o período seco deste ano, que começou antes e deve se estender pelo menos até outubro. Para o Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil isso implicará um período maior de suplementação alimentar dos animais. A atual condição climática se diferencia completamente do ano passado(2009), que teve período seco curto e com boa oferta de pastagem em praticamente todo o ano. Essa situação deve influenciar diretamente na produção de leite e carne, com uma tendência de aumento do custo de produção. As condições de produção devem se regularizar com o retorno das chuvas no verão.
Já para o Sul do Brasil as condições climáticas são favoráveis até a primavera deste ano. No entanto, como o La Niña está associado à escassez de chuvas no verão, que pode se prolongar até o outono de 2011, é de se esperar um cenário mais adverso para a produção de pastagem no próximo ano, o que deve indiretamente prejudicar a produção de leite e carne da região.
Argentina/Paraguai
Assim como ocorre com lavouras de soja do Sul do Brasil, na Argentina e no Paraguai também se observa uma redução das chuvas e aumenta o risco de estiagens regionalizadas no verão, durante período de La Niña. Para a safra 2011, portanto, muda o cenário climático em relação ao observado na safra passada, diminuindo em tese o potencial de produção.
Para a fase de plantio das lavouras de verão entre outubro e novembro, os produtores não devem enfrentar grandes problemas, pois a primavera, mesmo com a presença do La Niña, ainda é um período de boas chuvas. Os agricultores da Argentina, porém, devem considerar fortemente o risco de estiagem durante os meses de verão. Inclusive, a continuidade do La Niña remete para um outono também com chuvas abaixo da média.
Estados Unidos
Definidas as condições favoráveis de plantio das lavouras de soja e milho, daqui para frente as preocupações dos agricultores norte-americanos se voltam para a ocorrência e distribuição das chuvas durante o verão. De um modo geral, pode-se afirmar que as condições climáticas se mostram favoráveis para produção das lavouras do Meio-oeste dos Estados Unidos.
A tendência para este verão é de uma condição média, com elevação da temperatura e redução das chuvas. Cabe ressaltar apenas que, como é típico do verão norte-americano, este ano podem ocorrer alguns períodos de estiagens regionalizadas, entre julho e agosto, principalmente nas áreas produtoras localizadas mais a oeste, incluindo parte dos Estados de Nebraska, Iowa, e Missouri. A previsão da instalação do La Niña para o outono no Hemisfério Norte está associado com redução das chuvas, o que em tese deve favorecer o período de colheita a partir de setembro.
Energia
O período seco mais longo nos reservatórios do Sudeste e do Centro-Oeste significa uma menor oferta de energia no segundo semestre de 2010, o que implicará manutenção da expectativa de elevação do preço da energia pelo menos até o fim do ano.
Para 2011, com a presença do La Niña, o cenário muda primeiramente para as Bacias Hidrográficas do Sul do Brasil, que a partir do verão entram em um período de deficiência de chuva. Para as Bacias Hidrográficas do Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte, a previsão é de uma recuperação dos níveis, com as chuvas do verão e do outono de 2011. O prolongamento do La Niña em 2011 é que vai definir o nível de problemas e riscos do Sistema para o segundo semestre. A Somar ressalta que em períodos longos de La Niña (duração maior que um ano) o Sistema de Geração de Energia Hidrelétrica do Brasil apresenta deficiência.

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