terça-feira, 13 de abril de 2010

INVESTIDORES DE COMMODITIES DESCOLAM-SE E MUDAM ESTRATÉGIA.

Os mercados futuros de commodities têm negado, nestes primeiros meses de 2010, uma de suas tendências mais sólidas nos últimos anos: a forte convergência de preço entre os diferentes grupos de matérias-primas e os mercados de ações. O comportamento dos preços no primeiro trimestre do ano sugere um descolamento entre metais, energia e produtos agrícolas, não apenas entre si mas também em relação às bolsas de valores e à oscilação do dólar.
Como conjunto, as commodities registram fraco desempenho em 2010. Entre janeiro e março, o índice Reuters-Jefferies CRB, que reúne as 19 principais matérias-primas negociadas em bolsa, caiu mais de 3,5%. Foi o pior resultado desde o primeiro trimestre de 2009, quando havia caído pela última vez. Em contrapartida, o índice Dow Jones da Bolsa de Nova York subiu 4,1%, o que mostra uma mudança no padrão de comportamento dos mercados em relação ao ano passado.
Em 2009, a correlação entre os preços das ações e das commodities chegou a 80%, maior patamar em quase três décadas, segundo levantamento do banco de investimento Barclays Capital. Isso significa dizer que, ao longo de todo o ano, essas diferentes classes de ativos oscilaram quase sempre na mesma direção. Tal tendência manteve-se durante os dois primeiros meses de 2010, quando a maior aversão dos investidores a ativos de risco diante de um cenário contaminado por incertezas derrubou os preços de ações e commodities, indistintamente. Em março, entretanto, o índice Dow Jones decolou, acumulando ganho de 5,14%, enquanto o CRB estagnou, com variação negativa de 0,5%. Vinícius Ito, analista da corretora Newedge USA, em Nova York, diz que as ações se destacaram das commodities porque várias empresas importantes dos Estados Unidos apresentaram resultados positivos nos últimos meses, um prato cheio para investidores que fugiram do mercado europeu em meio à escalada das preocupações com a crise fiscal na Grécia. "Esse dinheiro chegou aos EUA e encontrou uma bolsa de valores que não estava mal, com várias ações se recuperando de um período ruim, não porque estavam vendendo mais, mas porque apertaram os cintos e cortaram gastos", afirma. Ao mesmo tempo, pondera o analista, não havia nada muito promissor nas commodities, especialmente as agrícolas. "Várias commodities haviam subido muito no ano passado e foram consideradas caras."
À primeira vista, o fraco desempenho das commodities poderia ser associado ao comportamento do dólar. Durante o primeiro trimestre de 2010, o dólar acumulou valorização de 4,1% em relação a uma cesta de divisas fortes, como o euro e o iene. Como os preços das commodities são denominados em dólar, suas cotações tendem a cair quando a moeda se valoriza. Assim, se ajustam ao menor poder de compra de empresas comerciais e especuladores que usam outras moedas. De olho nessa relação, especuladores costumam montar posições em que compram ou vendem cotas em índices de commodities baseados na oscilação do dólar.
No entanto, vários mercados de commodities parecem ter simplesmente ignorado a valorização do câmbio nos últimos meses. O petróleo, por exemplo, acumulou valorização de 3,2% no primeiro trimestre. Na média, os metais preciosos subiram 2,3%, enquanto os metais usados pela indústria, como o cobre, avançaram 6,1%. Por outro lado, os mercados agrícolas amargaram perdas expressivas. Os chamados softs recuaram, em média, 12,6% nos últimos três meses - pressionados em grande parte pelo açúcar, que despencou 34%. A soja, principal item da pauta de exportação brasileira, recuou 10%; milho e trigo caíram aproximadamente 18%.
O comportamento dos investidores ajuda a explicar o sobe-e-desce das cotações. Entre 29 de dezembro e 30 de março, o saldo líquido de compra dos fundos especulativos nos mercados de petróleo e cobre cresceu 27% e 76,6%, respectivamente. Em contrapartida, sua posição comprada foi reduzida em 15% no mercado de açúcar, 73% no de soja e 78% no de milho. Analistas asseguram que o movimento indica uma mudança, ainda que momentânea, na estratégia dos investidores em relação às commodities. Em vez de aplicar seus recursos em índices que oferecem exposição ao conjunto das commodities, estratégia a que recorrem quando querem se proteger contra pressões inflacionárias evidentes, especuladores optaram por ser mais seletivos num cenário ainda dominado por incertezas na economia. "Os mercados passaram a operar baseados principalmente nos fundamentos de cada commodity, especialmente na segunda metade do trimestre", afirma Nilson Monteiro, diretor de commodities da Link Investimentos, em São Paulo. O analista lembra que as commodities receberam um grande influxo de capital especulativo no fim de 2009, mas que foram abatidas por uma forte liquidação entre janeiro e meados de fevereiro. "Desde então, vivemos um mercado morno, com movimentos pontuais de algumas commodities, mas sem uma tendência clara para o todo", analisa. "A tendência é que continuemos assim até que o mercado volte a se preocupar com a inflação", afirma.
Para Shawn Hackett, presidente da Hackett Financial Advisors, o aumento da produção agrícola mundial na safra 2009/10 mostrou aos investidores que os produtores são capazes de garantir a oferta necessária para fazer frente ao crescimento da demanda mundial sempre que os preços se tornam atraentes. "Em contrapartida, commodities como petróleo, metais preciosos e industriais parecem sofrer de um engessamento estrutural em sua capacidade de responder, com aumento da produção, à elevação dos preços devido aos altos custos e à complexidade dos investimentos", afirma Hackett. "Essa percepção criou um fluxo crescente de capital especulativo dos mercados agrícolas para áreas onde a resposta dos produtores dificilmente é suficiente."

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