quinta-feira, 15 de julho de 2010

INCERTEZA EXTERNA DEVE DEPRECIAR CÂMBIO

A preocupação de investidores com a recuperação da economia mundial, sobretudo dos Estados Unidos e Europa, além das dúvidas relativas à expansão da China no médio prazo, devem manter a volatilidade do câmbio no decorrer do ano, o que tende a gerar alguma depreciação nominal do real ante o dólar norte-americano, ponderam analistas ouvidos pela Agência Estado. Os especialistas ponderam que a cotação do câmbio deve, no mínimo, superar um pouco a marca de R$ 1,80 ao final de 2010. Nesse processo, devem colaborar as incertezas de gestores de recursos internacionais com a condução da política fiscal e cambial pelo próximo presidente da República.
A última pesquisa Focus aponta que o valor do real ante ao dólar deve chegar a R$ 1,80 em dezembro deste ano e alcançar R$ 1,85 no término de 2011. De acordo com o BC, saíram do País US$ 502 milhões de forma líquida entre os dias 5 e 9 de julho, o que representa uma saída total de US$ 1,237 bilhão neste mês, até o dia nove.
Na avaliação do economista-sênior do BES Investimento, Flávio Serrano, o câmbio deve alcançar R$ 1,90 ao final de dezembro e chegar a R$ 1,95 no encerramento de 2011. Para ele, o cenário mais provável das contas comerciais é registrarem avanços suaves ao longo dos próximos meses, mas diminuir os bons resultados ao redor de novembro, quando há um aumento sazonal das importações de fim de ano e redução das exportações de produtos agrícolas. Ele estima que o saldo comercial deve atingir US$ 13,5 bilhões em 2010 e baixar para US$ 8,5 bilhões no ano que vem. O decréscimo daquele superávit deve colaborar para a alta do déficit de contas correntes no período, que deve subir de US$ 49 bilhões para US$ 57 bilhões, respectivamente. "O câmbio deve continuar apresentando volatilidade no decorrer do ano, com depreciação nominal até dezembro", disse.
Para o economista do banco Santander Cristiano Souza, há uma série de incertezas na economia mundial que devem prevalecer sobre os bons fatores domésticos, a ponto de levar o câmbio à cotação de R$ 1,95 no final de 2010 e para R$ 2,00 em dezembro do ano que vem. "Há dúvidas em grande quantidade sobre a evolução do nível de atividade nos EUA, na China e a velocidade de melhora da Europa", destacou. Ele ponderou, que, no caso do país asiático, um dos principais motores da recuperação mundial, muitos analistas ponderam que o PIB deve recuar de uma marca próxima a 10% neste ano para 8% no próximo. Contudo, ele destacou que o anúncio de novos indicadores econômicos nos próximos meses pode indicar que a desaceleração é maior, o que levaria o principal mercado emergente a apresentar uma expansão menos robusta já em 2010. "O cenário mais provável é o câmbio registrar um gradual movimento de depreciação até chegar em R$ 1,95 em dezembro", destacou.
De acordo com o economista da Tendências Consultoria, Felipe Salto, um fator que deve pressionar o câmbio para uma leve desvalorização até o final do ano, quando atingirá na sua avaliação R$ 1,82, é a volumosa remessa de lucros e dividendos ao exterior.
Segundo ele, há a expectativa de que devem ser enviados para outros países nesta categoria de recursos US$ 29 bilhões neste ano e US$ 40,9 bilhões em 2011. Para ele, esse fluxo de capitais está relacionado com dois elementos: de um lado, há o bom desempenho da economia nacional, que gera um volume expressivo de receitas para empresas, inclusive multinacionais. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil deve crescer pelo menos 7% neste ano. De outro, a necessidade das companhias com sede no exterior de remeter às matrizes boa parte dos rendimentos obtidos no País, a fim de reforçar o caixa em tempos de consumo modesto nos mercados centrais, especialmente nos EUA, zona do euro, Inglaterra e Japão.
Além disso, Felipe Salto destaca que o câmbio tende a atingir uma marca próxima a R$ 1,90 entre setembro e outubro devido às dúvidas dos investidores sobre a condução da economia relativas a dois temas. "No caso de José Serra vencer as eleições presidenciais, há questões relacionadas à manutenção da política cambial. Caso Dilma Rousseff seja eleita, há incertezas sobre a gestão fiscal", comentou.
No mercado financeiro, muitos especialistas especulam que José Serra poderia depreciar o real ante o dólar com maior velocidade a fim de reduzir o déficit de transações corrente. Sobre Dilma, recaem dúvidas sobre sua disposição de diminuir os gastos do governo federal a fim de gerar superávit primário anual perto de 3,3% do PIB, sem levar em conta a aplicação de recursos federais em projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O economista da LCA Homero Guizzo estima que o câmbio deve chegar à cotação de R$ 1,75 em dezembro e atingir R$ 1,80 em 2011. Para ele, dois indicadores devem ajudar a manter a moeda nacional estável ante o dólar até o final do ano. Um deles é o ingresso de investimento direto estrangeiro, que deve chegar a US$ 34 bilhões neste ano e US$ 37 bilhões no próximo. Um outro elemento é a melhora das captações externas nos próximos meses, com destaque para os recursos que entrarão no País devido à oferta pública de ações da Petrobras. Para Serrano e Salto, a estatal deve arrecadar, pelo menos, US$ 6 bilhões de recursos externos com a operação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivo do blog

Quem sou ?

Minha foto
SÃO PAULO, CAPITAL, Brazil
CORRETOR DE COMMODITIES.

whos.amung.us

contador de visitas