terça-feira, 5 de abril de 2011

SOJA: EUA PRECISA AUMENTAR PRODUTIVIDADE PARA ATENDER EXPORTAÇÃO

Maior exportador de soja do mundo, os Estados Unidos poderão ter de reduzir as vendas externas na safra 2011/12 se a produtividade no campo não superar os índices dos últimos anos, de acordo com analistas consultados pela Agência Estado. Com baixos estoques de passagem e área 1% menor, o país precisa produzir mais por hectare para atender à demanda crescente pelo grão. Mas se não contar com clima favorável, pode ter de recorrer a uma elevação de preços como forma de desestimular a demanda. "Possivelmente os EUA terão que exportar menos porque a parte mais elástica da demanda é a exportação. E a única maneira de fazer isso é elevando os preços", avalia Vinicius Ito, analista da corretora Newedge.
Na semana passada, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estimou a área a ser cultivada com soja no país em 76,6 milhões de acres (30,99 milhões de hectares), 1% abaixo do que foi semeado em 2010/11. Ainda que essa seja a terceira maior área da história, a demanda é bastante aquecida e os estoques de passagem estimados em 140 milhões de bushels (3,8 milhões de toneladas) são considerados muito baixos, equivalentes a 15 dias de consumo.
Segundo Ito, o uso de soja para produção de óleo e ração destinados ao mercado interno também deve cair, só que em menor proporção, porque se trata de uma demanda relativamente estável. Mas nesse caso também o preço determinará até onde irá a demanda por parte de pecuaristas. Hoje, a soja é negociada na bolsa de Chicago próxima dos US$ 14 por bushel.
Nas contas de Ricardo Lorenzet, da XP Agro, a produtividade das lavouras norte-americanas precisaria ficar 1 bushel por acre acima do recorde de 44 bushels registrado em 2009/10 para evitar uma situação de oferta apertada no final de 2011/12. Isso se a demanda total se mantiver estável e não houver contratempos climáticos. Na safra 2010/11, que termina em agosto, a produtividade registrada foi de 43,5 bushels por acre, com uma produção de 3,329 bilhões de bushels (90,6 milhões de t).
"Ficou mais claro que os EUA precisam produzir muito bem e a demanda não pode crescer", diz Lorenzet. Para ele, a vulnerabilidade ao clima se agrava no próximo ciclo. Como Ito, também espera preços mais elevados. "Considerando a possibilidade de não ter uma boa produtividade, o mercado vai trabalhar no pico da safra acima dos US$ 15, em torno de US$ 15,50", disse Lorenzet.
Ele lembra que os estoques finais de soja em 2010/11 nos EUA, estimados atualmente em 140 milhões de bushels, correspondem a 4,2% da demanda total do grão norte-americano. Com a área estimada atualmente pelo USDA e considerando a mesma produtividade da temporada passada, em 2011/12 a produção deve recuar para 3,297 bilhões de bushels (89,7 milhões de t). Se a demanda total, tanto externa quanto interna, se mantiver estável em 3,35 bilhões de bushels (91,1 milhões de t), os estoques finais americanos recuam para 82 milhões de bushels (2,23 milhões de t) e a relação estoque/consumo cai para 2,4%.
Mas se a produtividade cair para 42 bushels, por exemplo, a produção atingiria 3,184 bilhões de bushels (86,6 milhões de t) e os estoques finais ficariam negativos em 31 milhões de bushels (843,7 mil t), com a relação estoque/consumo em -0,94%, considerando a mesma demanda. Como não existem estoques negativos, o quadro é de déficit de abastecimento.
Ito lembra que a última vez que os EUA enfrentaram níveis críticos foi na temporada 2003/04, quando houve quebra de safra e o país ficou com estoques finais de 112 milhões de bushels. Naquele ano a demanda foi racionada através da alta dos preços, que basicamente dobraram e atingiram o nível de US$ 10,60 por bushel. Segundo o analista da Newedge, um nível de estoques considerado mais confortável seria de 200 milhões de bushels, ou cerca de 22 dias de consumo.
USDA - O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulga na próxima sexta-feira seu relatório mensal de oferta e demanda mundiais. E no dia 11 de maio deve ser anunciada a primeira estimativa de produção para a nova safra. Segundo os analistas, o órgão do governo deve alterar suas projeções, seja de produtividade, de demanda ou de estoques.
"Ou coloca a produtividade para cima, ou reduz a demanda. Senão, vai ter que projetar estoques muito baixos. É um cobertor curto, não tem para que lado ir", diz Lorenzet. Já Ito acredita que o USDA adotará uma posição cautelosa e dificilmente fará alterações na demanda. No entanto, mudará aos poucos o tamanho dos estoques para evitar um choque no mercado, diz.
Brasil - Essa situação pode favorecer o Brasil de duas maneiras, avalia Daniele Siqueira, analista da AgRural. A alta de preços garantiria maior rentabilidade ao produtor nacional, uma vez que as negociações no País são atreladas às cotações de Chicago. Além disso, uma menor oferta nos Estados Unidos incentivaria o plantio na safra 2011/12 do Brasil, plantada após a norte-americana.
"A China, principalmente, teria que tirar soja de algum lugar. E esse lugar seria o Brasil ou a Argentina; não tem outras opções. E caso haja um problema climático nos EUA, isso pode levar o Brasil a plantar mais na próxima safra, e a exportar mais", disse ela.

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