segunda-feira, 30 de agosto de 2010

PERSPECTIVAS PARA A POLÍTICA MONETÁRIA.

O Banco Central tem optado por diminuir o ritmo do aperto monetário à medida que a inflação apresenta alguma moderação, na margem, e a incerteza sobre a recuperação das economias avançadas eleva-se. No entanto, dados a robustez da demanda doméstica, o déficit em conta corrente e a volta da dependência de capitais voláteis na sustentação do balanço de pagamentos, as perspectivas para a política monetária vão depender, dentre outros fatores, do nível da taxa de juros nos países desenvolvidos.
A expansão da economia gera pressões de demanda nos preços ao consumidor e também nas importações. A exuberante expansão do crédito, cujo crescimento das concessões alcançou 18% em 12 meses, juntamente com a expansão da massa real de salários e os estímulos fiscais, resultou no aumento da demanda agregada acima da capacidade produtiva da economia. Os dados do setor externo corroboram este fato. Em julho, as transações correntes foram deficitárias em US$ 4,5 bilhões, acumulando déficit de US$ 43,8 bilhões nos últimos doze meses, equivalentes a 2,24% do PIB.
A taxa de inflação anual (12 meses) declinou nos últimos três meses: de 5,3% em abril reduziu-se para 4,6% em julho. Entretanto, isso refletiu mais o efeito de choques idiossincráticos de oferta, como no caso da queda nos preços dos alimentos, do que efeito da política monetária. O aumento dos preços dos bens não-comercializáveis em relação aos comercializáveis revela que o País desenvolve excesso de demanda doméstica. De acordo com este cenário, é provável que a inflação demore um pouco mais até convergir para a meta de 4,5%.
Apesar da desaceleração apresentada no segundo trimestre, a economia brasileira terminará o ano de 2010 com crescimento acima do potencial, como também com inflação acima da meta central. O mercado interno continuará sendo o principal responsável pela expansão, e o excesso de demanda provavelmente persistirá. Tal fato pressiona os preços e as transações correntes, de cujo déficit vem sendo financiado pela elevação dos investimentos externos em carteira, os quais aumentaram 3,5%, nos últimos 12 meses findos em julho.
O Real tornou-se uma das commodities monetárias mais desejadas, em virtude da trajetória de valorização esperada. Entusiasmado pelo interesse dos investidores na moeda brasileira, o Tesouro Nacional alongou a dívida interna, mesmo sem a existência de mercados secundários líquidos. Logo, quando da ocorrência dos primeiros sintomas da desvalorização dos ativos denominados em real, sem "portas de saídas" imediatas, a ansiedade dos investidores é potencializada pelos sucessivos aumentos da cotação do dólar e das taxas de juros futuras.
No curto prazo, a necessidade de financiamento externo não é tão preocupante, pois a situação nas economias avançadas tem característica deflacionária. Após o primeiro semestre caracterizado pela recuperação apoiada na recomposição de estoques, a economia americana sofre com desemprego alto, e a fraqueza do mercado imobiliário produz efeito riqueza negativo sobre as famílias, prejudicando o consumo. Além disso, apesar dos dados na Europa estarem relativamente melhores, também no curto prazo, as medidas de austeridade fiscal devem reduzir o crescimento nos próximos anos.
Dessa forma, apesar da elevação das incertezas no cenário externo, que mudaram o conjunto de informações utilizadas pelo Banco Central, o aquecimento da economia doméstica induz à expectativa de que a inflação levará mais tempo até convergir para a meta. Isso pode conduzir o Banco Central no sentido de sinalizar novos aumentos nas taxas de juros, nos anos seguintes, caso haja afrouxamento da política fiscal. Conjuntamente, os déficits em conta corrente financiados pelo ingresso de capitais voláteis podem ficar escassos, no caso da elevação das taxas de juros de longo prazo dos títulos americanos. No entanto, isso é improvável, ao menos no curto prazo.

* Carlos Thadeu de Freitas Gomes é economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do Banco Central. Esta seção não se responsabiliza por operações decididas a partir das informações e opiniões divulgadas neste artigo.

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