terça-feira, 19 de outubro de 2010

COMÉRCIO: EFEITO DE DESVALORIZAÇÃO DE MOEDAS.

O diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, soa o alerta com relação à guerra de moedas e adverte que a recuperação dos fluxos de exportações corre o risco de ser afetado se essa tensão entre os países for transformada em políticas de desvalorização. Lamy, que abandonou a tradicional cautela em relação a sua avaliação sobre as moedas nacionais, chegou a admitir que há um consenso de que a moeda chinesa está desvalorizada. A estimativa da OMC é de que, se o ritmo de recuperação da economia mundial for mantido até o final do ano, as exportações terão uma alta de 13,5% em comparação a 2009 em volumes. Nos países emergentes, a expansão seria de 17%. Os números são um contraste forte com a queda de 12% registrada em 2009, o pior ano para o comércio desde a Grande Depressão.
Mas, para o francês, se países começarem a de fato intervir em suas moedas para tornar suas exportações mais competitivas e impedir a entrada de importações, o risco é de que haja disputas. "Há um risco de fricção e o risco é real", afirmou Lamy, em uma reunião hoje com um grupo de jornalistas em Genebra. Há uma semana, foi a vez de a ONU alertar que a guerra de moedas ameaçava os investimentos em 2010. Agora, o alerta vem do setor comercial.
Nas leis da OMC existe uma possibilidade de que um país faça uma queixa se avaliar que outro usou sua moeda para ganhar competitividade no comércio e prejudicar um parceiro. Mas, em 60 anos desde que foi criada a entidade, o artigo na constituição do comércio mundial jamais foi usado. Para o diretor da OMC, os governos em todo o mundo conseguiram conter suas tentações protecionistas nos últimos dois anos e o número de barreiras criadas por conta da crise não foi significativo. O risco agora é de que essa situação seja minada exatamente por medidas de desvalorização de moedas nacionais, criando condições mais competitivas para a exportação de um país e, na prática, criando barreiras para a entrada de produtos. Na prática, isso acabaria sendo um novo protecionismo.
"Por enquanto, isso é apenas um risco. Mas o perigo para o comércio é se essas medidas se materializarem", afirmou. "Se o front monetário acordar, poderemos ser fragilizados (no comércio mundial)", disse.
Nas últimas semanas, a pressão nos Estados Unidos e Europa cresceu em torno de uma pressão para forçar a China a deixar de manipular sua moeda, o que permitiria uma maior importação de produtos do Ocidente para o mercado asiático e uma invasão menor de bens chineses na Europa e Estados Unidos. O resultado, segundo esses países, seriam balanças comerciais mais equilibradas. Mas, por enquanto, essa pressão tem apenas gerado tensões entre os governos e troca de acusações. Na semana passada, a reunião do Fundo Monetário Internacional não chegou a um consenso sobre o tema diante das disparidades de avaliações dos países. Para Lamy, se há um consenso de que a moeda chinesa está desvalorizada, não há nada que diga com exatidão que esse seria o fator que estaria destruindo empregos nos Estados Unidos e levanto a taxa de desempregados para 10%. Isso porque o que importa é o valor adicionado do produto, e não apenas sua origem. Um exemplo é o IPod que, apesar de ser exportado pela China, tem parte de seu material e tecnologia criada nos Estados Unidos.
A OMC vem desenvolvendo uma nova fórmula para contabilizar o comércio internacional, não apenas baseado no fluxo de produtos, mas no valor adicionado criado do comércio e, portanto, de quantos empregos de fato gera. A nova metodologia promete ser tão polêmica como revolucionária. Lamy por anos se recusou a falar da situação das moedas, apontando que esse era um tema do FMI. A mudança em seu tom revela também o fato de que as políticas monetárias passaram a estar no centro do debate comercial, e não apenas das finanças. Na avaliação do diretor da OMC, apenas uma solução multilateral pode ser a resposta para a situação em que o mundo atravessa hoje no debate sobre as moedas.
Eleição - Sobre as eleições no Brasil, Lamy ainda apontou que seja qual for o vitorioso das eleições presidenciais, a política comercial do País não deve mudar, com as prioridades sendo mantidas quase intactas: abertura de mercados, redução de subsídios agrícolas no exterior e a busca por novas fontes de comércio. "Políticas comerciais são reflexos de fundamentos da economia", afirmou. "Ela reflete o que um país acredita que tem uma vantagem ou desvantagem comparativa e como é sua relação com seus vizinhos quando trata disso.
Portanto, é algo estável na maioria das vezes", disse Lamy, que por anos acompanha a política brasileira e faz questão de demonstrar que sabe os motivos para o segundo turno entre José Serra e Dilma Rousseff. Em se tratando de política comercial externa, porém, Lamy prevê uma continuidade na estratégia brasileira. "Não sei por que mudaria", afirmou. "Outros temas têm, inclusive, tido uma repercussão na campanha muito superior ao comércio, que praticamente não foi um assunto", completou.

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