sexta-feira, 27 de agosto de 2010

ESTRANGEIROS PREOCUPA PRODUTORES EM MATO GROSSO.

O avanço do capital estrangeiro no plantio de grãos em Mato Grosso preocupa as lideranças rurais, que são cautelosas ao abordar o assunto, pois veem também na situação uma oportunidade para superar a crise de endividamento crônica que se arrasta desde a crise do agronegócio de 2005. A dívida com bancos e tradings é estimada em mais de R$ 10 bilhões. Assim como os grandes grupos familiares instalados no Estado, os estrangeiros são a salvação da lavoura para os produtores que estão endividados e sem crédito, pois arrendam as terras e financiam o plantio, utilizando a infraestrutura e o maquinário já existentes nas propriedades.
Não existem dados oficiais, mas estima-se que o arrendamento do plantio da soja em algumas regiões ultrapasse os 50%. Um levantamento feito pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostrou que atualmente 20 grandes grupos respondem por 20% da área cultivada com soja no Estado. Há cinco anos, os 20 grandes grupos respondiam por 9% do plantio da soja em Mato Grosso. Dentre eles, pelo menos três são estrangeiros.
Diante da incapacidade de muitos agricultores de quitar suas dívidas e permanecer na atividade, o arrendamento por parte dos estrangeiros é visto com bons olhos pelas lideranças rurais. É o caso do argentino Los Grobo, que chega neste ano ao Estado com R$ 70 milhões em caixa para financiar o plantio e assegurar a compra da produção, por meio da troca por insumos (defensivos e fertilizantes), numa operação que inclui operações de hedge para proteção contra oscilações dos preços da soja, do frete e do câmbio. Há mais tempo no Brasil, a empresa O Telhar, vinculada à multinacional argentina El Tejar, ocupa 180 mil hectares com plantações de soja, milho e algodão em 14 municípios de Mato Grosso. Cerca de 40 mil hectares são áreas próprias e o restante arrendado de brasileiros.
Rui Prado, presidente da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), reconhece que a concentração da produção é um fato que ocorre em todo o mundo, mas ressalva que no Estado o processo é acentuado em virtude do elevado grau de endividamento e do alto custo de produção. Por causa da longa distância dos portos, os produtores pagam mais caro pelos insumos (a maioria das matérias-primas é importada) e recebem menos pela soja.
Em relação à compra de terras pelos estrangeiros, as lideranças rurais evitam assumir a defesa da restrição pura e simples. Eles defendem igualdade de condições para concorrer com os fundos de investimentos, que têm acesso a recursos fartos e baratos para comprar terras e financiar a produção. Um dos receios das lideranças é que, após as dificuldades enfrentadas pelos agricultores pioneiros para desbravar as regiões de fronteira, os fundos estrangeiros sejam beneficiados pela valorização das terras, em virtude dos investimentos do governo federal na melhoria da logística, como a abertura da BR 163, que permitirá o escoamento da safra pelos portos da Região Norte, e a construção da ferrovia Centro-Leste, que cortará as principais regiões agrícolas do Estado.
Ninguém sabe ao certo quantos milhões de hectares em Mato Grosso estão em mãos dos estrangeiros. Na semana passada, o banco australiano Macquarie confirmou a criação de um fundo que irá captar US$ 600 milhões para investir em terras e arrendamentos na Austrália e no Brasil. O alvo do Macquarie é Mato Grosso. Os diretores da instituição estiveram no Estado no início desde mês, visitando fazendas. A meta é comprar 250 mil hectares para produção de soja.
Arrendamento - O parecer da Advocacia Geral da União (AGU) que determina aos cartórios de imóveis que registrem a compra de terra por empresa estrangeira em livros especiais está prejudicando os negócios de arrendamento em Mato Grosso. Na dúvida, muitos cartórios no interior não estão aceitando registrar contratos de arrendamento de terras por estrangeiros de áreas superiores a 500 hectares.

Venilson Ferreira, correspondente

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