sábado, 26 de março de 2011

SOJA/MT: PRODUTORES QUESTIONAM DESCONTO PELAS TRADINGS

A produção de soja de Mato Grosso pode atingir o recorde de 19,247 milhões de toneladas estimados em fevereiro pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), mas o valor da produção de ficar abaixo das expectativas. Esta é a opinião do presidente da Associação dos Produtores de Milho e Soja de Mato Grosso (Aprosoja), Glauber Silveira, que nas últimas semanas vem discutindo com as tradings a questão dos descontos aplicados nos preços pagos aos produtores por conta da classificação dos grãos avariados pelo excesso de chuvas em algumas regiões do Estado.
Silveira afirmou que a entidade realizou teste com amostra de um lote de soja que foi entregue no armazém de uma trading e depois levado para classificação em outras cinco empresas. Segundo ele, o resultado da classificação sobre as avarias nos grãos foi diferente em todas as empresas, inclusive naquela que realizou a primeira análise, que também recebeu a mesma amostra sem saber que o teste estava sendo repetido. Houve casos em que uma empresa apontou 6% de grãos ardidos e outra 20%, para amostras de lotes de caminhões que transportavam a soja colhida no mesmo dia em uma só lavoura.
Na opinião do presidente da Aprosoja ainda não é possível dimensionar os prejuízos que os produtores estão enfrentando por causa das divergências na classificação da soja, mas alerta que nas regiões mais afetadas pelas fortes chuvas o impacto será significativo, pois além do desconto aplicado pelas tradings na compra do produto, os agricultores também tiveram perda de produtividade no campo e estão pagando mais caro para escoar a soja, pois a demora na descarga dos caminhões nos armazéns elevou o valor do frete interno.
Glauber Silveira afirmou que a Aprosoja vem discutindo o problema da classificação da soja com as tradings, pois os critérios nos armazéns são subjetivos, muitas vezes com avaliação apenas visual. Além da questão da falta de um padrão objetivo para quantificar os grãos avariados para estabelecer o desconto, os produtores também reclamam da forma como os cálculos são feitos. Silveira cita como exemplo casos em que as empresas estabelecem desconto de 10% de umidade na compra da soja, mas na hora do cálculo dos grãos avariados levam em conta 100% da carga entregue. Ele também questiona o critério da cobrança por saca na classificação, pois com o aumento da cotação da soja o valor pago pelos produtores dobrou em relação ao ano passado.
O presidente da Aprosoja diz que muitos produtores, que estão colhendo 3.100 quilos de soja por hectare, após os descontos aplicados pelas tradings receberão o equivalente a 2.900 quilos por hectare, o que terá impacto na renda do setor. Nas regiões afetadas pelas chuvas, a concentração da colheita nos raros períodos de estiagem provocou congestionamento nos armazéns. Glauber Silveira diz que na safra passada utilizou cinco caminhões para entregar toda produção de soja nas tradings e neste ano teve que contratar doze veículos. O motorista que no ano passado realizava duas a três viagens por dia, neste ano chegou a enfrentar filas de 30 horas nos armazéns para descarga da mercadoria. O reflexo foi o aumento de 100% no valor do frete interno, que no início da colheita estava em R$ 0,40 por saca e agora é de R$ 1,00. "As pessoas acham que é pouca coisa, mas no caso do produtor que produz 100 mil sacas de soja o custo de transporte para o armazém teve aumento de R$ 50 mil em relação à safra passada", diz ele.
O gerente do Sindicato Rural de Campo Novo do Parecis, Antonio de La Bandeira, diz que a colheita desta safra "é a mais traumática da história da soja em Mato Grosso". Ele diz que na região os produtores tiveram que ficar atentos dia e noite, para aproveitar os bons momentos de colheita, mas muitas vezes as máquinas ficaram paradas no campo por causa da falta de caminhões, que estavam retidos nas filas de espera dos armazéns. Ele reconhece que o congestionamento para descarga nas tradings era inevitável, pois como eram raras as oportunidades de tempo seco, todos os produtores aproveitavam para acelerar a colheita.
Silveira acredita que a colheita da soja em Mato Grosso deve encerrar no final deste mês, com atraso de 20 a 25 dias, em função das chuvas que prejudicaram os trabalhos. O Imea divulgou hoje pela manhã que até ontem a colheita atingiu 81,1% dos 6,413 milhões de hectares cultivados nesta safra. O atraso é de 16,9 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano passado. O gerente técnico da Aprosoja, Luiz Nery Ribas, chama atenção para o aumento da incidência de focos de ferrugem nas lavouras de ciclo longo, que começaram a ser colhidas nas últimas semanas. Ele acredita que a ferrugem também deve provocar queda na produtividade da soja, mas o impacto só poderá ser mensurado após a conclusão da colheita.

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