segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

PERSPECTIVAS 2011: DÓLAR R$ 1,60 A R$ 1,90

O cenário externo de incertezas e a necessidade de incentivar as exportações - tanto para evitar deterioração maior nas contas externas, quanto para impedir a desindustrialização - devem contrabalançar os efeitos que os fundamentos domésticos positivos e o juro elevado poderiam ter nos fluxos de recursos para o País e consequentemente na trajetória do real em 2011, de acordo com economistas de mercado ouvidos pela Agência Estado. As projeções dos especialistas para a taxa de câmbio ao final de 2011 mostram que eles concordam em relação às variáveis que mais influenciarão na definição do rumo do câmbio, mas não têm consenso sobre quais serão mais fortes.
As estimativas para o dólar ao final de 2011 variam de R$ 1,60 a R$ 1,90. Ou seja, há aqueles que esperam um caminho de apreciação da moeda nacional e os que apostam na direção contrária, visto que atualmente o dólar orbita R$ 1,70 e a marca esperada para o final do mês é de R$ 1,71, a considerar a pesquisa Focus do Banco Central divulgada no dia 6 de dezembro. "O câmbio está atrelado ao que acontece lá fora e a perspectiva é de que a economia dos EUA se mostre mais forte do que a europeia. Isso significa dólar com mais força do que o euro", disse o economista-chefe do WestLB, Roberto Padovani, que projeta a moeda norte-americana em R$ 1,70 no final deste mês e R$ 1,60 em dezembro de 2011. Ele destaca, ainda, que a queda do dólar ante o real só não será maior porque a crise das dívidas soberanas europeias tende a aumentar a cautela com a destinação dos recursos internacionais, prejudicando os fluxos para países emergentes, entre eles o Brasil.
Além disso, Padovani acredita que, por ter "comprado a tese do controle cambial", o ministro Guido Mantega, que permanecerá no comando do Ministério da Fazenda no novo governo de Dilma Rousseff, deve continuar tomando atitudes para impedir a apreciação do real. "O ruído em torno do câmbio vai crescer, com a piora das contas externas e das exportações", prevê, ao mesmo tempo que critica interferência na taxa de câmbio. Para o economista, o problema das exportações não é o dólar e sim as condições de produção do Brasil, especialmente os problemas de infraestrutura portuária, o custo da mão de obra e da energia.
O gerente da mesa de derivativos da CM Capital Markets, Eduardo Barros, estima que o dólar poderá fechar 2011 no patamar atual de R$ 1,70, chegando a R$ 1,75 somente no fim de 2012. Barros concorda que ao longo do próximo ano a crise de dívida soberana de países europeus continuará e vai influenciar, mas aposta num bom encaminhamento da questão, em consequência das políticas de controle fiscal e aperto de gastos, a exemplo do planejado pela Irlanda. Ele pondera que "a volatilidade no mercado de moedas deve persistir ao longo do próximo ano e o dólar no Brasil seguirá oscilando ao sabor do vaivém e humor do mercado externo".
A dose de cautela de Barros fica por conta de um crescimento mais lento da economia dos EUA, "que poderá ainda ter dificuldades no mercado de trabalho". Como Padovani, o profissional da CM Capital Markets também espera que o Banco Central brasileiro se mantenha vigilante para evitar que o real se valorize muito, comprometendo as exportações. "À medida da necessidade, o governo tomará medidas para controlar o câmbio, que é uma preocupação global", disse Barros. Ele lembrou que, este mês, o BC retomou a rotina dos dois leilões diários de compra quando o dólar foi abaixo de R$ 1,70, a fim de dar sustentação ao câmbio.
O economista da RC Consultores. Fábio Silveira também prevê ações do governo no câmbio. Ele tem convicção de que o juro vai subir e que a política de acumulação de reservas seguirá como instrumento para enxugar os dólares que o diferencial das taxas externa e interna atrai e vai continuar chamando para o País. A estimativa de Silveira é de que as reservas internacionais, cujo volume já é superior a US$ 280 bilhões, ultrapassem os US$ 300 bilhões. E não deve parar por aí. Ele prevê outro tipo de medida para controle de capital, como a recente alta de IOF.
Silveira, que vislumbra o dólar variando de R$ 1,70 e R$ 1,80 em 2011, também não despreza a interferência da crise internacional no mercado de moedas. Ao contrário. Além das incertezas da Europa e dos EUA, ele coloca a possível alta de juros da China em destaque. "Se as taxas subirem por lá, isso pode afetar os fluxos, deslocando parte do dinheiro que está estacionado aqui hoje. Isso pressionaria o dólar para cima", disse.
O economista da Rosemberg Associados, Rafael Bistafa, ao contrário de Barros estima que o cenário externo se agrava ainda mais nos próximos meses e reforça a opinião de Silveira sobre a pressão que isso deve ter sobre a cotação do dólar. Em sua avaliação, a moeda norte-americana só não dispara em decorrência da aversão ao risco por causa das injeções de liquidez nos países desenvolvidos, que em sua opinião, devem continuar no decorrer de 2011. "Aumento de aversão ao risco de um lado e pacotes de liquidez de outro devem influenciar na trajetória do dólar", disse, apresentando os dois lados da mesma questão, com influências contraditórias no mercado de moedas. "O ano de 2011 deve ser de volatilidade, com predominância de uma constante e lenta alta do dólar", completa.
O economista Sidnei Nehme, sócio-diretor da NGO Corretora de Câmbio, acredita que o governo deve agir no sentido de permitir que o dólar suba e estimule as indústrias a exportarem. Ao contrário da maioria do mercado, ele acredita que, atualmente, a intenção do governo é de deixar o real apreciar-se para ajudar no combate à inflação. Isso seria alterado na gestão de Dilma Rousseff.
O economista avalia que o novo governo vai combater inflação por meio do controle da demanda, como já teriam sinalizado as recentes medidas de enxugamento de liquidez e restrição ao crédito. "Com um controle mais rigoroso da liquidez e dos gastos correntes do governo a fim de conter a inflação em 2011, o dólar teria espaço para subir. Nada muito explosivo, mas suficiente para favorecer uma retomada das exportações pelo setor industrial não agrícola. Seria uma forma de compensação para permitir que a indústria continue se desenvolvendo", disse.
Combinado com uma apreciação do dólar ao patamar de R$ 1,90, Nehme espera a adoção de uma política de desoneração das exportações, via redução de impostos e incentivos à produção para venda externa. "O custo Brasil é muito alto e o governo precisará desonerar as exportações. Para isso, deve ser adotada uma política de incentivos ao exportador, parecida com a adotada no auge da crise internacional durante 2009, quando o foco do governo Lula se voltou para os estímulos ao mercado interno", afirmou.

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