sexta-feira, 1 de outubro de 2010

BOLSAS-FUNDOS AUMENTAM PARTICIPAÇÃO NAS COMMODITIES AGRÍCOLAS.

As commodities agrícolas terminaram o mês de setembro com forte valorização, um movimento influenciado pelos problemas climáticos que reduziram, ou apenas ameaçaram, a produção de várias culturas ao redor do mundo, mas também pela perda de valor do dólar ante outras divisas, que tornou mais atrativos os produtos negociados nessa moeda. Esse caldo "altista", na linguagem dos participantes do mercado, atraiu grande interesse dos fundos de investimento, que desde julho têm aumentado sua posição comprada nas bolsas de matérias-primas.
"Não é um movimento atípico, mas foi uma combinação de fatores positivos. E os fundos enxergaram ali uma oportunidade", comentou o analista Marcelo Gumiero, da Icap Corretora, em São Paulo. Para citar apenas alguns exemplos, Rússia e Ucrânia viram suas safras de trigo quebrarem por causa da pior seca em décadas; inundações varreram lavouras de cana e algodão no Paquistão; excesso de chuvas atravancou os embarques de açúcar no Brasil e, para completar, o La Niña está atrasando o plantio de soja e milho em algumas regiões brasileiras. "O clima no mundo foi o principal gatilho e o mercado de commodities agrícolas também não é tão grande. Cem milhões de dólares investidos por fundos no milho fazem muita diferença", disse Vinicius Ito, da Newedge, em Nova York.
No front financeiro, muitos participantes dos mercados futuros estão usando commodities, como o ouro e as agrícolas, como proteção contra a inflação diante da possibilidade de afrouxamento quantitativo nos Estados Unidos (na prática, uma injeção de dólares na economia). "Os investimentos dos fundos nas commodities estão sendo financiados pelo dólar fraco. Se o BC norte-americano jogar mais dinheiro na economia, vai pressionar ainda mais a moeda, o que pode provocar um movimento inflacionário. E os investidores vão para as matérias-primas também para se proteger da inflação", lembrou Ito.
De acordo com o dado mais recente da Commodity Futures Trading Commission (CFTC), órgão que regula os mercados futuros nos EUA, fundos e especuladores elevaram seu saldo comprado na soja de 13.023 para 163.087 mil contratos, entre 6 de julho e 21 de setembro. No milho, o volume saltou de 9.828 para 465.714 mil contratos praticamente no mesmo período. Ambos são negociados na Bolsa de Chicago (CBOT). No café e no açúcar, negociados na Bolsa de Nova York (ICE Futures), esses saldos oscilam em torno de 40 mil e 100 mil contratos, respectivamente, níveis que estão entre os mais altos do ano. Novos dados saem hoje, às 17h00 de Brasília.
Ito observa que entre as commodities que fazem parte do índice CRB, que mede a variação de uma cesta de 19 produtos que vão de agrícolas a petróleo, passando por metais, as agrícolas estão entre as que mais subiram em setembro, como açúcar (22%), algodão (18,24%), milho (13%). Ouro (4,8%) e petróleo (11,2%) ficraam um pouco atrás. O índice CRB, por sua vez, acumulou alta de 8,58%, de 264,07 para 286,86 pontos no mês passado.
Crise? - A recente alta dos preços internacionais dos produtos agrícolas levantou preocupações de que uma nova crise de alimentos estava à espreita, como ocorreu em 1973 e 2008. Há dois anos, fatores como seca em países produtores de trigo, como a Austrália, a disparada dos preços do petróleo, a queda do dólar e a especulação em torno do aumento do uso de milho para a produção de etanol, fizeram as cotações dos alimentos disparar. As do trigo saltaram 130%, as da soja, 87%; as do arroz, 70%.
A situação levou a Organização para Alimentos e Agricultura das Nações Unidas (FAO) a fazer uma reunião de emergência na semana passada para avaliar a situação. A conclusão do encontro, realizado em Roma, foi a de que a recente volatilidade nas cotações é motivo de preocupação, mas não configura uma crise. "Não estamos em 1973", afirmou na ocasião Abdolreza Abbassian, secretário do Grupo Intergovernamental sobre Grãos, da FAO, referindo-se à quebra na safra nos então países soviéticos, que ajudou a desencadear uma inflação mundial nos alimentos. Tampouco, parece, estamos em 2008. A FAO disse esperar que a oferta de cereais e arroz fique acima da demanda neste ano, o que reforça o caráter especulativo das altas recentes.
Se os fundos vão continuar a comprar e se a produção dos países abalados pelo clima vai se recuperar são incógnitas. Mas a volatilidade dos últimos meses voltou a chamar a atenção dos reguladores para esses mercados. No início do mês, a Comissão Europeia propôs mudanças para melhorar o controle sobre o investimento financeiro em commodities e sugeriu que isso poderia incluir uma pressão por limites de posições em derivativos de commodities nas bolsas dos Estados Unidos. Mas para o executivo-chefe da conceituada consultoria Informa Economics USA, investidores financeiros têm um papel essencial ao promover a liquidez nos mercados. "A volatilidade não é a questão; mas como gerenciar essa volatilidade", disse ele, ontem, durante uma conferência sobre agricultura realizada em Bruxelas.

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