quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

SOJA : BRASIL TERÁ DE ABRIR ÁREA PARA ATENDER DEMANDA.

A crescente demanda mundial por soja vem colocando o Brasil em uma posição de destaque como fornecedor da oleaginosa. Para ter mais produto e atender a essa procura, o aumento da área cultivada é considerada por analistas a melhor opção no curto prazo, já que eventuais novidades em biotecnologia, capazes de elevar a produtividade em áreas já ocupadas, ainda devem demorar a chegar ao mercado. Ampliar a lavoura de soja significa não só avançar sobre áreas de pastagens, como está se vendo em Mato Grosso, mas também abrir novas áreas, dizem as fontes.
De acordo com Amélio Dall´Agnol, pesquisador-chefe de comunicação e negócios da Embrapa Soja, dos três maiores produtores mundiais o Brasil é o que tem as melhores condições para atender à demanda impulsionada principalmente pelo apetite voraz da China. Os Estados Unidos, maiores produtores, já enfrentam uma forte disputa por área principalmente entre soja e milho. No país, é grande a demanda pelo cereal, matéria-prima do etanol. Já a Argentina, segundo Dall'Agnol, só expandiria a área da oleaginosa se o preço se mantiver alto, porque as regiões para onde o plantio pode avançar precisariam de maior aplicação de fertilizantes e representam maior risco.
"No Brasil temos muita área disponível apta para produção, e que pode ser facilmente incorporada ao processo produtivo. Nos últimos 11 anos, a média anual de aumento de produção foi de mais de 8 milhões de toneladas, e nem por isso está sobrando soja", disse Dall´Agnol à Agência Estado. Desde a safra 2000/01, a área cultivada com soja cresceu 10 milhões de hectares. Para atender à demanda crescente, André Pessôa, sócio-diretor da Agroconsult, diz que o Brasil precisa expandir a lavoura do grão em mais 8 milhões de hectares nos próximos 10 anos. Isso elevaria o total semeado de 24,1 milhões de hectares na atual temporada para 32 milhões de ha. O Ministério da Agricultura projeta a área de soja em 2019/2020 em 26,8 milhões de hectares.
"É ingênuo pensar que não precisamos de novas áreas. Hoje, a cultura da soja está perto do limite de produtividade possível de se obter. Há necessidade de se produzir mais, de ampliar a área de produção", defendeu Pessôa, para quem o País não dará conta de atender à demanda internacional sem a abertura de novas lavouras. Segundo ele, enquanto no milho a produtividade brasileira ainda está longe das maiores vistas no mundo, na soja, o produtor nacional está "perto do estado da arte", ao tirar das lavouras o mesmo volume de soja - ou até mais - que os concorrentes norte-americanos.
De acordo com dados divulgados hoje pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produtividade das lavouras de soja brasileira deve chegar a 2.943 quilos por hectare. Já o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), em relatório também divulgado hoje, diz que o produtor do país deve retirar 2.925 quilos de grão em um hectare. No milho, por exemplo, o produtor brasileiro produz 4.158 quilos por hectare (média considerando a primeira e a segunda safra), menos da metade dos colegas americanos, que colhem 9.590 quilos por hectare.
Cerrado - O plantio de soja já vem ocupando áreas de pastagens, como aconteceu nesta safra em Mato Grosso. Mas na opinião dos consultores, a produção brasileira não poderá crescer sem o uso de novas áreas, destacadamente as do Cerrado. Esse movimento, entretanto, depende de os preços permanecerem em patamares elevados como os vistos atualmente, devido ao alto investimento para a implantação de novas lavouras. De acordo com Dall´Agnol, dos 207 milhões de hectares do Cerrado, 130 milhões são agricultáveis. Cerca de 20 milhões de ha são utilizados atualmente para a agricultura.
"Se os preços compensarem, o produtor pode facilmente dobrar, triplicar a área de soja, sem derrubar a floresta amazônica", disse Dall'Agnol.
"A área está crescendo todos os anos, só que o custo de produção também. Então o produtor só abre áreas novas quando tem certeza de que vai vender a um preço bom. E é isso que está acontecendo neste ano", acrescenta.
A soja negociada em Chicago está em torno de US$ 14, nos maiores níveis em dois anos e meio, devido à demanda forte e ao aperto da oferta. Com esse preço, o produtor não recupera no primeiro ano o custo que teve para derrubar a vegetação nativa, corrigir o solo e transformar a região em área agricultável. Nas contas de Dall´Agnol, esse processo custaria em torno de R$ 2.500 a R$ 3.000 e o produtor ainda gastaria mais R$ 1.500 para instalar a lavoura.
"Colhendo 50 sacas por hectare e vendendo a R$ 40 a saca, que é o preço praticado hoje no Centro-Oeste, daria R$ 2 mil por hectare. Ou seja, é preciso dois anos colhendo bem para cobrir essa conta. Não é fácil para o produtor decidir abrir uma grande área se não tiver uma perspectiva de bons preços, então ele vai aos poucos", disse o pesquisador, lembrando que a lei permite que 80% da vegetação do Cerrado seja transformada em lavoura, contra 20% da Amazônia.
André Pessôa, da Agroconsult, destaca um ponto: o bom momento também para a pecuária de corte. Os altos preços da arroba do boi estimulam a pecuária atualmente e podem limitar a liberação de áreas de pastagens para o plantio de soja. "Além disso, recuperar o pasto degradado está ficando caro", acrescenta sobre a necessidade de preparar o terreno para receber a oleaginosa.
Biotecnologia - Enquanto isso, as soluções em biotecnologia criadas exclusivamente para aumentar a produtividade devem demorar.
Atualmente esse resultado é indireto, já que as variedades transgênicas de soja disponíveis no mercado e a maior parte dos estudos atuais são voltados para a resistência a herbicidas, a insetos ou à seca.
"Nenhuma dessas tecnologias aumenta diretamente a produtividade, mas sim de forma indireta devido ao melhor controle das ervas daninhas, à redução dos custos e do uso de inseticidas. Não é que falte interesse em melhorar a produtividade, mas essa é uma característica muito complexa. Estamos apenas na ponta do iceberg (dos estudos nessa área) e ainda há muita coisa evoluindo", disse Alexandre Nepomuceno, pesquisador da Embrapa Soja.
Segundo ele, que também é membro da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), o único estudo atualmente conhecido no mercado para uma soja geneticamente modificada de alto rendimento é da Monsanto. A empresa já pediu a liberação para testes em condições de campo, mas não há qualquer previsão para resultados iniciais.
"Vamos ter que esperar mais dois, três anos para ver os resultados desse estudo da Monsanto", disse Nepomuceno. A Monsanto não dá mais detalhes sobre esse estudo e também não fala em prazos.

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