quarta-feira, 6 de outubro de 2010

CÂMBIO: ALTA DE COMMODITIES COMPENSA REAL FORTE MAS HÁ PREOCUPAÇÃO.

A desvalorização do dólar não deve gerar prejuízos expressivos para o agronegócio brasileiro, ao menos neste momento, segundo economistas e analistas de mercado. Se por um lado o câmbio torna mais caros os produtos brasileiros no exterior, por outro - como o fenômeno é global - tem elevado os preços das matérias-primas, inclusive as agrícolas, como soja, milho e algodão.
"A desvalorização do dólar é um fenômeno mundial e tem aumentado as cotações internacionais das commodities. Para o Brasil, o efeito do dólar tende a ser compensado pela alta de preços no mercado externo", diz Geraldo Sant'ana de Camargo Barros, coordenador científico do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. Ele acrescenta que a queda da moeda americana faz com que a relação de troca com fertilizantes, por exemplo, continue favorável ao produtor, mesmo porque muitos insumos têm preços influenciados pelo câmbio. O dólar fechou hoje em R$ 1,68 e acumula queda de 4,11% em 2010. Ontem, a moeda bateu em 1,67, no menor nível desde setembro de 2008.
Na avaliação de Eduardo Godoi, analista de mercado da AgRural, o real valorizado "é sempre um problema para o agronegócio", em especial nas chamadas regiões de fronteira, como Mato Grosso. "Os custos logísticos, que compõem os preços pagos ao produtor, sobem em dólar com o câmbio forte", observou. Mas ele ressalvou que as cotações internacionais da soja, por exemplo, e os prêmios pagos pela oleaginosa no Brasil estão bons e acabam por compensar o câmbio desfavorável. Os preços de outros produtos agrícolas, entre eles milho, algodão, café, açúcar e suco de laranja, têm sido beneficiados pelo câmbio, mas também por questões intrínsecas a cada um desses mercados, como demanda forte e problemas climáticos em várias áreas produtoras do mundo.
Para a analista Amaryllis Romano, da Tendências Consultoria, na safra 2010/11 o câmbio poderá ser um problema no momento da comercialização, nos primeiros meses do próximo ano. "O problema é o descasamento na hora da venda. Se o dólar estiver baixo, vai afetar. Mas há uma perspectiva de preços sustentados lá fora", ponderou. O analista de mercado da Emater/RS, Athaides Jacobsen, demonstra preocupação. "A persistir esse quadro de valorização do real, a situação se complica para o agricultor porque tira a competitividade dos produtos brasileiros no exterior, sobretudo os do agronegócio. Hoje temos preço interno da soja equiparado ao do mercado internacional, mas vamos ver como será em maio do ano que vem, com a safra colhida." Jacobsen reforça o impacto do câmbio na remuneração do produtor. "Em abril de 2004 a soja era cotada a US$ 9,85 o bushel e o agricultor recebia R$ 50, com um câmbio de R$ 2,90. Hoje, a soja vale entre US$ 10,50 e US$ 11 o bushel e o preço recebido é de R$ 38 no atual câmbio."
Para o setor de suco de laranja, que exporta mais de 95% da produção, o câmbio valorizado é muito ruim, diz o presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), Christian Lohbauer. "O dólar como está encarece os produtos e tira margem", diz.
Ele avaliou que o aumento do IOF sobre o capital externo aplicado em renda fixa, em vigor desde ontem, é uma medida fraca e que não trará impactos sobre o dólar. "Aumentar de 2% para 4% não significa nada, pois o investidor paga. Até poderia ser diferente se fosse para 20%", disse.
No setor sucroalcooleiro, a valorização do real está tirando parte dos ganhos obtidos com a alta dos preços do açúcar no mercado internacional. Para o diretor técnico da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Única), Antonio de Padua Rodrigues, o fato de o Brasil ser o principal exportador de açúcar do mundo faz com que o preço da commodity seja formado aqui e o cenário cambial acaba refletido nas cotações. "Em 2009, os preços não estavam tão altos e tínhamos um dólar médio de R$ 2,00. Com o dólar chegando abaixo de R$ 1,70 nesta safra, a alta da cotação no exterior foi provocada em parte por esta valorização do real", disse. Para Rodrigues, como os preços também estão sustentados pelo cenário de menor oferta mundial, a desvalorização do dólar está apenas limitando os ganhos do setor, mas ainda não afeta de forma expressiva sua receita.

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