terça-feira, 5 de outubro de 2010

DESVALORIZAÇÃO DO DÓLAR SERIA MAIOR SEM AUMENTO DO IOF.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega voltou a reconhecer que o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para os investimentos estrangeiros em renda fixa, que entrou em vigor hoje, ainda não surtiu o efeito esperado. "Há remédios que não fazem efeito no dia seguinte. Às vezes você começa a tomar um antibiótico e tem que tomar uma semana. É preciso olhar o cenário de hoje", disse o ministro, citando que o Japão, por exemplo, também tomou uma medida importante, para desvalorizar o iene em relação ao dólar, o que afetou muitos mercados. "O que se poderia pensar é que não fez efeito hoje, mas poderia fazer amanhã. E certamente ela (a medida) vai diminuir o fluxo de capital de curto prazo em aplicações financeiras, o que vai nos ajudar a diminuir a pressão sobre o dólar", afirmou. Segundo o ministro, o raciocínio é que "se não tivesse tomado essa medida, com o fluxo grande que estava ocorrendo, poderia haver uma desvalorização do dólar maior do que de fato ocorreu".
Mantega admitiu, porém, que "essa não é uma medida definitiva que vai resolver todo o nosso problema". "É para atenuar o fluxo forte que se identificou em aplicações financeiras estrangeiras em mercados de renda fixa", ressaltou. Ele informou que vai amanhã a Washington, para uma reunião com ministros da Fazenda dos 24 países mais importantes do mundo, discutir o mesmo assunto. "A questão cambial é generalizada e não só no Brasil", afirmou. "Estamos vendo que a cada dia países tomam medidas para impedir a valorização das suas moedas. Ninguém quer perder a guerra comercial. Ninguém quer deixar de exportar ou ter sua moeda valorizada artificialmente. Nós temos que discutir em conjunto para acharmos uma saída comum a todos os países".
Mantega negou que as bolsas possam ser taxadas, justificando que não há fluxo excepcional nesse mercado. Negou também que possa haver aumento do IOF para compras no exterior com cartão de crédito. "Não mudou o IOF em relação ao cartão de crédito. Exceto em relação aos investimentos estrangeiros no mercado de renda fixa. O resto fica igual". Ele lembrou que no caso das compras no exterior ninguém pode trazer mais que US$ 500 por pessoa e quem ultrapassa esse valor já paga imposto sobre isso.
IOF É RETROCESSO DIZEM ANALISTAS NOS EUA
O aumento da alíquota de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% para 4% para os investimentos estrangeiros em renda fixa, que entrou em vigor hoje, deixou o Brasil um pouco menos atraente, mas não deve resolver o problema de valorização do real, acreditam analistas dos Estados Unidos entrevistados pela Agência Estado. "Acho que é um retrocesso. Usar controle de capitais é uma decisão questionável", avalia David Beker, chefe para América Latina em Estratégia Econômica e Renda Fixa do Bank of America-Merrill Lynch em Nova York. Segundo ele, esse instrumento já foi utilizado no passado sem muito sucesso e mesmo a adoção do IOF de 2% para capital estrangeiro, em outubro do ano passado, teve pouco impacto na trajetória do real. Nos anos 90, o governo cobrava IOF de 5% sobre capital estrangeiro que entrasse no País e chegou a subir a alíquota a 9%. Ela foi reduzida depois e eliminada em 1999. Para Beker, o aumento do IOF ontem não surpreendeu. "Tinha muito ruído vindo da Fazenda sobre o nível do câmbio e sobre o tamanho da intervenção", disse. O fato de o dólar ter rompido o nível de R$ 1,70, segundo ele, pode ter sido decisivo para que o governo anunciasse a medida ontem, um dia após as eleições e não após o segundo turno, como esperavam muitos analistas.
O analista, no entanto, disse que as regras para o diferencial das alíquotas não ficaram claras. O IOF de 4% vale para investimento de capital estrangeiro em renda fixa, enquanto para os investimentos estrangeiros em ações a alíquota continua sendo de 2%. "O governo precisa explicar melhor as regras. Como você controla a pessoa que comprou ações, depois as vende para comprar renda fixa? Como funciona o diferencial de alíquotas em casos assim?", questiona Beker.
Para Beker, a medida tem impacto de curto prazo e reduz a atratividade do País. Só não deve conseguir ser eficaz naquilo que o governo mais quer: enfraquecer um pouco o real. "Acho que é mudança importante. O Brasil de ontem para hoje está menos atrativo. Mas não acho que a solução para a apreciação do real seja o IOF", afirmou.
De acordo com o economista, o governo deveria tentar reduzir o fluxo de capital por meio de ajuste fiscal e permitindo que os juros reais caiam mais. "Quando o juro real cai, diminui a atratividade de comprar posições em renda fixa doméstica. O que tem que ser feito é criar condições para o juro real cair", afirmou.
Para Robert Wood, economista-sênior para América Latina da Economist Intelligence Unit (EIU) em Nova York, o aumento do IOF pode ter algum efeito apenas no curto prazo. "E então os fundamentos devem voltar a prevalecer, renovando a pressão sobre o real diante do alto diferencial de juros, perspectivas boas de crescimento do País, contexto de abundante liquidez global e juros baixos nas economias avançadas.
Sobre o timing da decisão, Wood avalia que o governo fez o anúncio no momento correto. "O real já tinha rompido a marca de R$ 1,70, que o governo parece estar defendendo. Também é possível que os investidores estivessem antecipando posições à espera de um IOF mais elevado e Mantega queria impedir que isso ocorresse", afirmou Wood. "Além do mais, o governo foi esperto ao tomar a decisão num momento em que os brasileiros estão mais focados no fato de Dilma Rousseff (PT) não ter ganho as eleições no primeiro turno. Por fim, o governo não quis arriscar e esperar até novembro para subir o IOF, dado o elevado apetite por risco que tem fortalecido o real", completou.
"A medida pode ajudar a conter parcialmente a especulação, mas os altos juros do Brasil ainda fazem do País um lugar atraente para especuladores. Além do mais, a questão de apreciação do real é muito mais profunda", analisa Reva Bhalla, diretora de análises da consultoria Strafor, em Washington.
O fato é que não há solução fácil ao problema cambial no Brasil. Enquanto as commodities dominarem as exportações brasileiras e o País continuar sendo um imã para investimento estrangeiro, mais dólares vão seguir entrando, impulsionando ainda mais o real", afirma Bhalla.

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