segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

CLIMA DEFINIRÁ SAFRA E RITMO DE COMERCIALIZAÇÃO DE SOJA.

Os produtores brasileiros, que começaram o plantio da soja de olho no céu, por causa do atraso das chuvas, permanecerão atentos ao clima até o final da colheita, preocupados com os efeitos do fenômeno climático La Niña. As previsões são de chuva no período da colheita no Centro-Oeste e estiagem na região Sul, fatores que podem provocar quebra da produtividade das lavouras.
Os agricultores ainda guardam lembrança da última passagem do La Niña, na safra 2008/09, quando o Brasil produziu 57,2 milhões de toneladas de soja, volume abaixo da expectativa inicial de colheita de 60 milhões de toneladas. Naquela safra, as regiões Sul e Centro-Oeste registraram forte estiagem e o Nordeste, chuva em excesso. A safra seguinte atingiu o recorde de 68,7 milhões e, em 2010/11, a expectativa é de produção de 68,5 milhões de toneladas, segundo o levantamento de dezembro da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Enquanto em Mato Grosso a estiagem atrasou o plantio em duas semanas, no Rio Grande do Sul o clima foi favorável e os produtores gaúchos correram contra o tempo. "A pressa deve à expectativa em relação ao La Niña", afirmou Ricardo Núncio, assessor técnico da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro), o terceiro maior produtor brasileiro.
Sustentação pelo clima - O aspecto positivo é que as preocupações com o clima na América do Sul estão contribuindo para dar sustentação aos preços da soja na Bolsa de Chicago, pois o mundo depende cada vez mais da safra sul-americana para atender à crescente demanda mundial, que avança num ritmo mais acelerado que a produção. Segundo os dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), nos últimos dois anos a produção mundial de soja cresceu 24% e atingiu 257,36 milhões de toneladas, enquanto as exportações aumentaram 26%, para 97,15 milhões de toneladas.
Somente a China aumentou suas importações de soja em 39% nos últimos dois anos, para 57 milhões de toneladas. A expectativa dos traders é de que a China continue sendo um forte comprador. O país asiático tem comprado soja a um ritmo recorde em 2010 para usar como ração, visando a atender à demanda de uma crescente classe média, que consome cada vez mais proteína animal.
A voracidade da demanda chinesa impediu que a colheita da safra recorde de 91,85 milhões de toneladas de soja nos Estados Unidos pressionasse os preços da soja no mercado internacional. Os relatórios do USDA mostram que em apenas três meses do atual ano safra norte-americano, que começou em setembro, as exportações atingiram 32,7 milhões de toneladas, que correspondem a 75% das 43,4 milhões de toneladas previstas até agosto do próximo ano. Os Estados Unidos são os maiores produtores mundiais de soja, vindo em segundo lugar o Brasil e, em terceiro, a Argentina.
No início do atual ano-safra, em agosto, a corretora Newedge trabalhava com a perspectiva de preços na Bolsa de Chicago na faixa de US$ 10 por bushel. O forte ritmo das exportações norte-americanas, que impulsionou as cotações dos futuros, levou a corretora a rever suas projeções e agora prevê preços entre US$ 10,50 a US$ 13,50 ao longo da safra.
Como grande parte da soja norte-americana está comercializada, nos próximos meses os preços da soja no mercado internacional oscilarão ao sabor do clima na América do Sul, "pois, como é ano de La Niña, existe a expectativa de acontecer uma estiagem, e qualquer quebra de produção mexe com o mercado", diz Otmar Hubner, agrônomo do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral), Estado que é o segundo maior produtor. Flávio Turra, gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), lembra que o período mais crítico para a lavoura é no começo do ano. "A preocupação é que (a estiagem) não aconteça em janeiro, em que a suscetibilidade das lavouras é maior, na fase de florescimento. Existe uma preocupação muito grande porque seria o ano de o produtor ganhar dinheiro com a soja por conta dos preços."
Comercialização - Os altos preços da soja na Bolsa de Chicago às vésperas do plantio da safra 2010/11 animaram os produtores brasileiros, principalmente de Mato Grosso. Eles comercializaram antecipadamente um volume maior do que o normal. Segundo levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), até novembro 57,4% da safra já estava comercializada, 27,4 % acima do registrado no mesmo mês do ano passado, quando as vendas atingiram 30% da produção esperada.
Em nível nacional, os produtores venderam até novembro 34% da safra de soja, ante 20% em igual período do ano anterior, conforme o analista da consultoria AgraFNP Aedson Pereira. "A gente vivenciou momentos de preços bem elevados, que, além de cobrir os custos, davam também margens muito boas, porque o preço do fertilizante estava mais em conta e o pacote tecnológico, mais barato", diz ele. Pereira estima que os custos de produção nesta safra estão entre 6% e 10% mais baixos.
Tradicionalmente, em função das chuvas de setembro Mato Grosso lidera a largada no plantio e colheita de soja no Brasil, o que não ocorreu em 2010 por causa do atraso das chuvas. Como a distância dos portos e os problemas logísticos encarecem os custos dos insumos e reduzem as margens na comercialização, os agricultores mato-grossenses, que cultivam em grandes áreas, dependem das vendas antecipada para bancar o plantio. Um levantamento da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) mostra que os agricultores financiam com recursos próprios 34% dos gastos com a lavoura. O restante é bancado pelos bancos (21%), revendas de insumos (33%) e tradings (8,7%).
Já os sojicultores do Paraná e do Rio Grande do Sul, mais capitalizados, com melhor estrutura de armazenagem e acesso a crédito, trabalham com a perspectiva de preços firmes na época da colheita, e tendem a administrar a comercialização. "Talvez venda em torno de 30% da safra na época da colheita e os outros 70% ao longo do ano, conforme a evolução do preço internacional. Perder dinheiro não vai, mas o produtor é conservador, prefere ver como vai se comportar o clima em janeiro e fevereiro", disse Núncio, da Fecoagro.
Atrasos - Em Mato Grosso, o atraso o plantio vai reduzir em 25% a disponibilidade de soja para comercialização neste mês de janeiro, de 4 milhões para 1 milhão de toneladas. Tradicionalmente, os produtores do Estado iniciam a colheita logo após o Natal e aproveitam os bons preços do início do ano, mas nesta safra a previsão é que os trabalhos se acelerem a partir da terceira semana de janeiro.
O analista Aedson Pereira, da AgraFNP, observa que uma das grandes preocupações dos importadores que compram soja no Brasil é com a entrega. "Mas não acredito em quebra de contrato, porque, por mais que demore, o que estiver pronto será entregue", disse ele, lembrando que, por conta da instabilidade climática, o produtor provavelmente fixou sua entrega mais para a frente do que o normal, para ter mais tempo para cumprir os contratos.

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