terça-feira, 4 de janeiro de 2011

GRÃOS: DEMANDA MAIOR QUE OFERTA SUSTENTA MERCADOS EM 2011

Demanda em alta, oferta apertada e excesso de dólares em circulação apontam para mais um ano de preços sustentados no mercado internacional de grãos e também de algumas soft commodities em 2011. Será o momento de tentar recuperar estoques perdidos por conta de eventos climáticos extremos em 2010 - seca no Leste Europeu, inundações na Ásia e agora na Austrália - enquanto se busca atender o crescente apetite por alimentos dos países emergentes, liderados pela China. "O mercado tem uma perspectiva extremamente altista", avalia Vinicius Ito, analista da corretora Newedge, em Nova York.
Mais que a especulação, são questões estruturais que devem manter o valor dos produtos agrícolas em alta. Em relatório divulgado em 1º de dezembro, a Organização para Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO) estimou preços dos grãos mais altos até setembro de 2011, por causa da queda nos estoques. "Um desenvolvimento importante e novo nesses mercados é que, ao contrário dos ralis anteriores, quando os preços subiam durante um ou dois meses e depois caíam, agora eles ficam em níveis elevados por um período muito mais longo de tempo", alertou Abdolreza Abbassian, secretário do Grupo Intergovernamental sobre Grãos para Alimentação, da FAO.
Nos três principais grãos - soja, milho e trigo - o consumo vai empatar ou superar a produção em 2010/11. De acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção mundial de soja deverá ser de 257,36 milhões de toneladas, para um consumo de 254,67 milhões de tons. No milho, a produção deverá chegar a 818,52 milhões de t, para uma demanda de 837,31 milhões. No trigo, a produção é estimada em 642,89 milhões de t, e o consumo, em 665,79 milhões de t. Embora os analistas considerem que os estoques mundiais de trigo sejam mais folgados que os dos outros grãos, a baixa qualidade de parte da produção deve fazer com que o volume destinado à alimentação humana seja menor que o previsto.
No caso da soja, um dos principais itens da pauta de exportação do Brasil, a perspectiva é de produção menor nos Estados Unidos em 2011/12, por causa da concorrência com o milho. No Brasil e na Argentina, segundo e terceiro maior produtor, a safra 2010/11, que será colhida no primeiro trimestre, tem tido leves revisões para baixo por causa do La Niña. Enquanto isso, as compras chinesas não param de crescer e apesar de o país ter elevado o juro mais uma vez em dezembro, a leitura é de que a demanda do país seguirá forte.
É preciso também lembrar que a Rússia, após a pior seca das últimas décadas, ao mesmo tempo em que suspendeu suas exportações de trigo dá mostras de que precisará importar milho dos vizinhos. Na Austrália, um dos maiores exportadores mundiais de trigo, chuvas reduzem a qualidade do cereal em lavouras já prejudicadas pelo clima na época do plantio. Nos últimos dias de 2010, as chuvas torrenciais que inundaram uma área equivalente à Alemanha e à França no país devem prejudicar o transporte do cereal.
Ito aponta que o mercado futuro da Bolsa de Chicago já está há algum tempo precificando esse déficit de oferta no mundo, no que os especialistas chamam de backwardation, ou seja, os preços dos contratos mais curtos ficam mais altos que o dos contratos mais longos. Isso também é chamado de mercado invertido. Em Chicago, o contrato do milho com vencimento em maio de 2011 valia US$ 6,29 em 31 de dezembro, enquanto o maio de 2012 era cotado por US$ 5,74. Na soja, o contrato março 2011 valia US$ 14,03 e o março 2012, US$ 13,0750 por bushel. "Isso quer dizer que o mercado está incentivando o agricultor a aumentar a produção neste momento", interpreta Ito.
Além dos fundamentos positivos dos grãos e também das soft commodities como o café e o açúcar, o dólar mais barato tem dado impulso às commodities. E isso deve continuar enquanto o Federal Reserve, banco central norte-americano, continuar a injetar mais dinheiro na economia, pressionando a moeda.
Em dezembro houve períodos de forte alta do dólar ante outros pares, como o euro. Supondo que esse movimento continue, o câmbio até poderia ser uma âncora para os preços das commodities agrícolas. Mas a possibilidade de recuo expressivo é remota justamente por causa dos fundamentos estruturais dos mercados de grãos. "Além disso, as taxas de juros próximas de zero e o afrouxamento quantitativo nos EUA, que pode ser inflacionário, devem continuar a atrair fundos para as commodities, historicamente utilizadas como proteção contra a inflação", avalia o analista da Newedge.

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