quinta-feira, 17 de março de 2011

SOJA: GANGORRA CLIMÁTICA TESTA NERVOS DOS PRODUTORES.

Preocupações com o clima fazem parte do cotidiano de qualquer agricultor, que do plantio à colheita acompanha diariamente as previsões de tempo. Chuvas ou estiagem fora de época são até corriqueiros. Mas na safra 2010/11, as mudanças do tempo, com grandes variações de temperatura, umidade e insolação, pregaram sustos e testaram os nervos dos produtores como há algum tempo não se via.
Depois de uma safra quase perfeita em termos de clima, em 2009/10, o atual ciclo tem sido marcado por momentos dissonantes de preocupação e euforia. Se no início o produtor se preparou para uma seca por causa do fenômeno climático La Niña, logo em seguida comemorou a chuva favorável que garantiria uma produtividade promissora e uma safra recorde. Agora, a tensão voltou a se instalar no campo porque o excesso de água dificulta o manejo, prejudica a colheita e o rendimento das lavouras.
Aedson Pereira, analista da Informa Economics FNP, destaca que as chuvas no final do ano passado e início de 2011 aliviaram as preocupações dos produtores com a seca, que já havia atrasado o início do plantio. "Em novembro e dezembro, que seriam decisivos para o desenvolvimento da cultura, o La Niña enfraqueceu. Em vez de seca, houve precipitação suficiente para garantir rendimentos bons", disse à Agência Estado. Nos cálculos da Informa, o Brasil terá produtividade média de 49,2 sacas por hectare, contra 48,8 sacas no ano passado.
Como os temores de forte estiagem não se concretizaram, as previsões sobre a produção foram pouco a pouco aumentando até atingir números recordes. Hoje, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) fala em uma safra de 70,3 milhões de toneladas, mas algumas consultorias chegam a 72 milhões. "Apesar do atraso no plantio, as chuvas muito boas de dezembro até fevereiro contribuíram para mudar aquele quadro negativo, fazendo com que a lavoura se desenvolvesse de forma robusta", disse Pereira. Mas esse momento de euforia rapidamente se transformou em forte preocupação, pois as chuvas se prolongaram até março e agora afetam a colheita. Em muitas regiões as colheitadeiras ficaram paradas, a umidade do grão aumentou e o controle de doenças e pragas ficou mais difícil. Segundo Pereira, fala-se em Mato Grosso de umidade entre 15% e 18% e, no Paraná, de 15% a 17%. O padrão é 14%.
Os produtores do Centro-Oeste, uma região caracterizada por um padrão climático em geral estável, ainda tentam avaliar os danos provocados pelas fortes chuvas. Uma das situações que mais chamam atenção é a de Mato Grosso do Sul, onde as estimativas preliminares apontam para uma quebra de 30% nas lavouras e potenciais prejuízos de R$ 1,5 bilhão. Segundo dados da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famasul), 55% da produção de soja estimada em 5,4 milhões de toneladas já foi colhida, com uma perda estimada em 1 milhão de toneladas.
Segundo Eduardo Riedel, presidente da Famasul, em municípios mais ao norte do Estado, como São Gabriel do Oeste, já há comprovação de perdas acima de 50%. Na região central, que inclui Maracaju, o maior produtor do Estado, as estimativas ficam na faixa de 30% a 40% da safra comprometida. A partir de Dourados e municípios mais ao sul as perdas foram menores, de até 5%. "Sabemos que, no conjunto, a quebra foi expressiva, mas ainda não é possível contabilizar o impacto final porque as situações variam muito. E temos de uma semana a 10 dias para concluir a colheita, então ainda dependemos de como o tempo vai evoluir para contabilizar o fechamento", disse ele.
Em Mato Grosso, principal Estado produtor, a colheita atingiu até a semana passada metade da área plantada de 6,413 milhões de hectares, mas está 27% atrasada em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Maria Amelia Tirloni, analista de grãos do Imea, lembra que a concentração da colheita nessa época do ano devido ao atraso do plantio e à falta de intervalos de chuva tem prejudicado os trabalhos no campo. O produtor também enfrenta dificuldade para controlar as doenças de fim de ciclo. A grande decepção, contudo, gira em torno da produtividade, uma vez que as expectativas não devem se concretizar.
"Existia a possibilidade de a produtividade aumentar em relação ao ano passado com o andamento da colheita, mas a umidade está diminuindo esse ganho. O produtor está se decepcionando e essa desilusão é significativa", disse ela, evitando entretanto fazer previsões sobre o rendimento. O Imea estimou em fevereiro uma produtividade de 3 mil quilos por hectare, queda de 0,8% ante o ciclo anterior.
Na região Sul, o clima também brincou com as decisões do agricultor. No Paraná, segundo principal produtor de soja, a perspectiva de que o La Niña prorrogasse as chuvas até a época da colheita levou os produtores a plantar de maneira escalonada para reduzir os riscos de perdas. O volume intenso de precipitações prorrogou o ciclo da soja em torno de 20 dias, segundo Flávio Turra, gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). "Devido ao excesso de chuvas em alguns municípios, foi difícil fazer o controle de pragas. Os produtores não conseguiram fazer as aplicações na hora certa. A região Sul foi a que teve mais dificuldade de controles", disse Turra.
Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral) do Paraná, a colheita atingiu nesta semana 50% da área estimada em 4,5 milhões de hectares, e Turra cita uma produtividade de até 3.300 quilos por hectare. "O clima surpreendeu positivamente o produtor. Havia toda uma preocupação inicial de perda de safra em função das condições climáticas adversas, mas elas não se confirmaram", disse ele.
A seca no sul Rio Grande do Sul, terceiro produtor, chegou a preocupar o mercado internacional, mas segundo a Emater as chuvas durante o mês de fevereiro deram um excelente padrão às lavouras. A expectativa é positiva em relação ao rendimento. A colheita ainda está nas etapas iniciais.
Expectativas - Apesar de todos os percalços e incertezas, as perspectiva de uma safra recorde ainda se mantêm. Entretanto, é grande a expectativa em torno das condições climáticas durante a colheita da segunda metade da safra.
"Ainda não se fala de perdas ou apodrecimento, mas a continuidade dessa umidade até abril gera preocupação, sim, e existe a possibilidade de algumas correções na produtividade em função desse excesso", avalia Pereira, da Informa. "Mas por mais que se tenha observado essas preocupações no Mato Grosso do Sul, acho que não vai pesar muito sobre a estimativa nacional."
Em seu último levantamento sobre a safra nacional, divulgado no dia de 10, a Conab não considerou o impacto das chuvas no Mato Grosso do Sul porque a avaliação das lavouras aconteceu antes. Mas o ministro Wagner Rossi já admitiu que isso pode prejudicar os números locais da produção. A próxima estimativa será divulgada em abril.

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